Pode porventura ser confundido com letargia e até apatia em caso de enorme distracção, mas as sete explorações assinadas por Pocahaunted (onde militou Bethany Cosentino, mais conhecida por Best Coast) de inertes e apatia não têm nada. Colhendo argumentos à música experimental e também em grande parte à música negra (na sua interminável extensão), o veículo algo extraterrestre que responde por Pocahaunted mata-se e esfola-se para fundir tanta coisa boa que nos foi dada a conhecer nas últimas décadas (apontando-se mais para os anos 60 e 70). Não é sequer surpresa que em “U.F.O.” – que conveniente – um saxofone rasgue percussão e vozes em perfeita sintonia com o free-jazz. Tudo é surpresa e, ao mesmo tempo, nada é surpresa.

Quando se recupera do tumulto, “U.F.O.” apresenta uns teclados vagabundos, marcados por uma cowbell bêbeda e fora de tempo, e entra numa toada quase reggae. Pode isto tudo parecer uma salgalhada às luzes da Roda Musical, mas, acreditem, não é. É, isso sim, uma sábia amálgama de mil e uma direcções e um estreitar de fronteiras que coloca Make it Real e Pocahaunted directamente no centro do furacão da música mais interessante nos dias que correm, sem passar pela casa da partida.

Quem centrifuga tudo e mais alguma coisa como em “Make it Real”, com guitarras esfuziantes e uma percussão de bradar aos céus, quem aposta de forma excitante na circularidade de movimentos como em “All of is of” (que, lembrando ESG, funciona quase como um preâmbulo de U.F.O.), quem pouco apostando na produção consegue um som verdadeiramente certeiro, merece estar sob atenção nos próximos tempos. Muita. Repetitiva e muito entusiasmada atenção.