Depois de dois álbuns absolutamente triunfantes na sua sinceridade de “meia bola e força”, o guião rock obrigava a que os Eddy Current Suppression Ring tentassem agora “o disco maduro e sofisticado, fiel à essência dos primeiros, mas suficientemente arrojado para não aborrecer as pessoas”. Felizmente, o quarteto australiano mantém-se analfabeto em relação a esse testamento - isto a julgar por um Rush to Relax que maravilha pelo simples facto de surgir alienado de todas as exigências que poderiam atormentar uma banda que chega aos topes na Austrália e aos palcos dos Estados Unidos. Pois bem, Rush to Relax cumpre apenas o que importa ao render o ímpeto e a ginga dos Eddy Current Suppression Ring durante o único dia de gravações exigido pelo disco.

Com isto, o apressado e o pragmático voltam a assegurar a verdade no defeito do rock praticado pelos Eddy Current Suppression Ring. Rush to Relax não vira sequer as costas às premissas simples de sempre: ansiedade, alimentação, baladas de rufia que não dispensa aquele abraço ao regressar a casa depois de ter rachado a boca a uns quantos membros da claque rival. Além disso, estas baladas não devem ser estranhadas num disco, que, como o próprio título indica, vacila entre o rush de “malhas” rasgadinhas de um só minuto e o relax de jams que demonstram o futebol bonito das melhores peladinhas (repare-se em como “Second Guessing” chega a atingir um ponto de ebulição kraut - estes gajos são brilhantes!). Basta essa oscilação como dinâmica para uma banda que dispensa pianos dramáticos e a produção inteligentíssima do Sr. Salva-carreiras.

A gratificação oferecida por estes Eddy Current Suppression Ring torna, até certo ponto, irrelevante a sombra provocada por influências descaradas como The Fall (uma vez mais). Insistir na identificação dos padrinhos estéticos é pois um exercício desnecessário como forma de chegar a uma banda que funciona admiravelmente dentro da filosofia do menor esforço. Talvez por isso, Rush to Relax aconteceu num só dia (nem Deus) mesmo sem dispor de tantos riffs infalíveis quanto os seus antecessores. Se esse é o pecado maior dos actuais Eddy Current Suppression Ring, então o inferno aguarda por muitas das bandas sonsas que nos tentam impingir por aí.