DISCOS
William Basinski
Vivian & Ondine
· 30 Mar 2010 · 10:07 ·
William Basinski
Vivian & Ondine
2009
2062 / Flur
Sítios oficiais:
- William Basinski
- 2062
- Flur
Vivian & Ondine
2009
2062 / Flur
Sítios oficiais:
- William Basinski
- 2062
- Flur
William Basinski
Vivian & Ondine
2009
2062 / Flur
Sítios oficiais:
- William Basinski
- 2062
- Flur
Vivian & Ondine
2009
2062 / Flur
Sítios oficiais:
- William Basinski
- 2062
- Flur
Um só loop. Um só amor. O mais extremo William Basinski é também o mais capaz de reproduzir em disco outra perspectiva sobre a vida enquanto ciclo.
Inevitavelmente, o enquadramento das peças de William Basinski exige muito mais palavras do que a sua descrição em termos práticos. A confirmação surge em "Vivian & Ondine", uma composição que, durante cerca de quarenta e cinco minutos, repete o mesmo loop de três acordes sem impedir a entrada e a saída de outros elementos, que transitam sem incomodar o soberano. Assim, o Loop, inspiradamente elaborado a partir de fita (hábito “basinskiano”), predomina sobre um cardume de loops de constituição mais incógnita e quase impalpável. Tudo isto num equilibradíssimo sistema de correntes cuja tradução em palavras não se deve ficar pelo drone.
Desta vez, um loop tão delicado, como aquele que domina "Vivian & Ondine", concorda com o pretexto igualmente delicado que dá nome ao disco: William Basinski tocou uma versão da peça junto da cunhada dias antes da sua sobrinha Vivian nascer e algumas horas depois foi surpreendido com a boa nova de outra prima (Ondine) na família. Lido desta maneira, Vivian pode até ser o Loop ponderado e residente (a metade de 90 dias de gestação é, de facto, 45), enquanto Ondine corresponderá ao nome lógico para a mais imprevisível ondulação numa peça gravada num só take.
Como um feto, e igualmente necessitado de uma vigilância atenta, “Vivian & Ondine” ganha membros e diferentes contornos à medida que avança. Quando o típico efeito letárgico do Loop Basinski faz crer que a audição decorrerá como um namoro perfeitamente monogâmico, eis que surgem os sons distantes, as ressonâncias ou, mais perto do final, o piano. E é assim que o compositor texano descreve o processo intra-uterino e é assim que o deixa preparado para um encaixe natural numa obra que tantas vezes já considerou as diversas etapas da vida como pano de fundo – fosse a morte representada na queda das torres (nos incontornáveis Desintegration Loops), a imparável vitalidade da auto-descoberta (The River) ou a ressurreição de um estado de espírito nova-iorquino de 1982 num documento apenas lançado em 2009 (92982).
Depois de tudo isto, é impressionante reparar como o desgaste passa ao lado de William Basinski (embora seja um instrumento da sua própria ciência). A sensação de infinito facilitada por Vivian & Ondine parece, aliás, destinada a atrair uma quantidade proporcional de termos de comparação, quer no cinema ou na literatura, quer nas experiências de vida (os mergulhos) ou até mesmo no universo das terapias (por mais new age que isso pareça). Se quisermos, “Vivian & Ondine” funciona como o inverso daquela nauseante sirene, que normalmente serve para a polícia dispersar as multidões, mas que, no filme-choque Irreversível, anuncia desde cedo – e no centro de uma espiral violentíssima – a morte a que o seu mais frágil protagonista estava destinado. William Basinski consegue precisamente o contrário ao descobrir vida na repetição. Uma vez mais e para bem de todos nós.
Miguel ArsénioDesta vez, um loop tão delicado, como aquele que domina "Vivian & Ondine", concorda com o pretexto igualmente delicado que dá nome ao disco: William Basinski tocou uma versão da peça junto da cunhada dias antes da sua sobrinha Vivian nascer e algumas horas depois foi surpreendido com a boa nova de outra prima (Ondine) na família. Lido desta maneira, Vivian pode até ser o Loop ponderado e residente (a metade de 90 dias de gestação é, de facto, 45), enquanto Ondine corresponderá ao nome lógico para a mais imprevisível ondulação numa peça gravada num só take.
Como um feto, e igualmente necessitado de uma vigilância atenta, “Vivian & Ondine” ganha membros e diferentes contornos à medida que avança. Quando o típico efeito letárgico do Loop Basinski faz crer que a audição decorrerá como um namoro perfeitamente monogâmico, eis que surgem os sons distantes, as ressonâncias ou, mais perto do final, o piano. E é assim que o compositor texano descreve o processo intra-uterino e é assim que o deixa preparado para um encaixe natural numa obra que tantas vezes já considerou as diversas etapas da vida como pano de fundo – fosse a morte representada na queda das torres (nos incontornáveis Desintegration Loops), a imparável vitalidade da auto-descoberta (The River) ou a ressurreição de um estado de espírito nova-iorquino de 1982 num documento apenas lançado em 2009 (92982).
Depois de tudo isto, é impressionante reparar como o desgaste passa ao lado de William Basinski (embora seja um instrumento da sua própria ciência). A sensação de infinito facilitada por Vivian & Ondine parece, aliás, destinada a atrair uma quantidade proporcional de termos de comparação, quer no cinema ou na literatura, quer nas experiências de vida (os mergulhos) ou até mesmo no universo das terapias (por mais new age que isso pareça). Se quisermos, “Vivian & Ondine” funciona como o inverso daquela nauseante sirene, que normalmente serve para a polícia dispersar as multidões, mas que, no filme-choque Irreversível, anuncia desde cedo – e no centro de uma espiral violentíssima – a morte a que o seu mais frágil protagonista estava destinado. William Basinski consegue precisamente o contrário ao descobrir vida na repetição. Uma vez mais e para bem de todos nós.
migarsenio@yahoo.com
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