DISCOS
Delphic
Acolyte
· 01 Fev 2010 · 10:17 ·
Delphic
Acolyte
2010
Polydor / Nuevos Medios


Sítios oficiais:
- Delphic
- Polydor
Delphic
Acolyte
2010
Polydor / Nuevos Medios


Sítios oficiais:
- Delphic
- Polydor
Os Delphic carregam a pesada herança de pertencerem a Manchester, uma das mecas da música mundial. Acolyte não é um disco capaz de arrasar, mas mostra que ainda há vida para lá de Madchester.
Toca de olhar para Manchester como ela é hoje. Chega dos fantasmas de Joy Division, New Order, The Smiths e Stone Roses. "Madchester", como acabou por ficar conhecida, é agora uma referência, não uma realidade. E é por isso que os Delphic, bem como as bandas que se sigam, devem ser devidamente avaliados como produto da sua época e geração. Se fôssemos por aí, nunca mais poderia haver uma banda bem sucedida em Liverpool: os Beatles tê-la-iam chupado totalmente.

Acolyte é o primeiro álbum de originais dos britânicos. Já sabíamos da sua existência desde o ano passado, quando "Counterpoint" e "This Momentary" foram confirmando batimento cardíaco do lado de lá. O disco aposta sobretudo em três frentes: um baixo que se afirma essencial em todas as faixas, sendo o único registo grave que se apresenta verdadeiramente como sustentáculo da harmonia. Um registo vocal interessante que, sem ser deslumbrante, é competente no que à construção de refrões sonantes diz respeito. E, como se trata de um disco com um pé na pista, não podiam faltar os sintetizadores, ora mais harpejados, outras vezes mais contínuos, claramente uma das marcas fulcrais na sonoridade do quarteto britânico.

Trata-se de synth pop da mais óbvia e comestível. No entanto, se nos faz falar dela é porque há registos interessantíssimos a que não podemos escapar. "This Momentary", já referido, é um dos grandes temas do disco. Lá está o baixo, a voz quase murmurada, os sintetizadores ambiente que dão a entrada aos pratos, num claro exemplo de crescendo. Quando entra a batida, surgem de imediato as vozes sampladas, outro indicador do código genético dos Delphic. "Acolyte", quinta faixa do disco, pode encarar-se como uma espécie de jam da banda. São quase 9 minutos de vozes em "aahhh" e múltiplas improvisações (ou não) em sintetizadores. Só que de seguida vem um dos momentos imperdíveis de Acolyte. "Halcyon" é o refrão mais autêntico do disco e também o mais preciso, incisivo e coerente. E, por isso, mais bem conseguido. A faixa tem também um solo de guitarra - que é o instrumento mais low profile dos Delphic. Não é nenhum Steve Vai, mas faz todo o sentido que se encontre nesse patamar. Há ainda tempo para divagações em reverse, que é como quem diz em "Ephemera", para culminar em "Remain", o último tema de Acolyte. Falamos dele porque introduz uma linha de piano, novidade exclusiva em todo o disco.

Isto mostra uma certa versatilidade num álbum cuja sonoridade não é a mais diversificada. Está na cara que é música para bater o pé, na mesma linha de Begone Dull Care (2009), dos Junior Boys, mas mais mexida. Não se trata de um disco arrasador mas bastante competente e, acima de tudo, capaz de mostrar que há vida para lá de Madchester.
Simão Martins
simaopmartins@gmail.com
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