Desde logo avisa-se os incautos que o ideal é vestirem um casaco antes de iniciarem esta nova viagem que o alemães Robert Henke e Torsten Pröfrock propõe como sucessor de Polygon Cities de 2005. A metáfora não se aplicará apenas pela gélida sugestão da capa, mas também porque a música que dá forma a Silence, além de fria para lá do humanamente tolerável, é também uma cuidadosa exploração de uma paisagem alienígena que se habituou à longa distância do sol.

Fruto de diversas manipulações sonoras captadas nos mais diversos pontos geográficos do planeta (sons de água dos Jardins Botânicos de Florença, vento do Grand Canyon ou os trabalhos num túnel da Suiça), Silence é um desusado mostruário de pormenores sintéticos que não se limita a encher o ambiente de barulho, revelando ser um engenhoso trabalho de design sonoro apto a criar paisagens mínimais repletas de traços minudentes que abonam a vista em vez de agastá-la.

Mesmo explorando as frias paisagens alienígenas, os Monolake não perdem a noção do essencial, e mesmo produzindo sons diáfanos, erguem melodias melancólicas que são o único garante de humanidade num disco que privilegia a nano tecnologia tipicamente alemã nos mais rebuscados acabamentos. Abrindo a paleta de possibilidades, Silence cinge alguns elementos dubstep ao minimalismo techno que inevitavelmente foi desmontado com intuito de dar maior liberdade no raciocínio da programação.

Por vezes excessivamente austero, Silence é um formal exercício de especulação que não revoga a sonoridade passada do projecto mas que a legítima para o futuro. Não propriamente no mesmo quadrante que as recentes manobras entre o techno minimal e o dubstep, que Shackleton viabilizou em definitivo há poucos meses com Three EPs, há em comum entre os dois discos o desejo de minimizar a ornamentação excessiva preferindo-se os micro-pormenores na criação de pequenas formas em atmosferas frias e nubladas repleta de gazes rarefeitos não letais. Silence é um disco disciplinado, que só podia ter sido criado por alemães, que trata com consideração as movimentações do silêncio entre o tempo e o espaço num mundo que claramente não nos pertence.