DISCOS
Edan
Echo Party
· 16 Dez 2009 · 12:32 ·

Edan
Echo Party
2009
Five Day Weekend / Flur
Sítios oficiais:
- Edan
- Five Day Weekend
- Flur
Echo Party
2009
Five Day Weekend / Flur
Sítios oficiais:
- Edan
- Five Day Weekend
- Flur

Edan
Echo Party
2009
Five Day Weekend / Flur
Sítios oficiais:
- Edan
- Five Day Weekend
- Flur
Echo Party
2009
Five Day Weekend / Flur
Sítios oficiais:
- Edan
- Five Day Weekend
- Flur
MC / produtor desaparecido em combate regressa com um festim de hip-hop que distorce e revitaliza a música venerada pelo próprio. A voz ficou de fora.
Parece caprichosa a opção de Edan quando interrompe uma espera de quatro anos com um disco que não conhece sequer a sua voz - isto depois de, em 2005, ter abrilhantado Beauty and the Beat com as suas super-capacidades de MC e produtor. Mais estranho é este silêncio se nos lembrarmos de como Edan tratava os mais diversos temas (desde veteranos de guerra a drogas criativas) com uma abundância de rimas temível. Que suborno pode então ter calado a matraca? Bem, digamos apenas que o grupo Traffic Entertainment colocou os seus riquíssimos catálogos, repletos de hip-hop, disco e funk, à inteira disposição do excêntrico de Maryland. O resultado, exposto no mix de meia-hora Echo Party, serve como injecção de ousadia experimental (lá iremos) na veia do hip-hop, ou, se preferirmos, como showcase de um produtor multifacetado mais interessado em recuar no tempo do que em participar num campeonato – o do hip-hop independente – em que Beauty and the Beat já tinha ganho praticamente tudo.
Na citação das suas inúmeras referências musicais, exaustivamente listadas no livrete-manual-de-instruções, Echo Party não destoará assim tanto de outras obras que enumeraram velhas glórias da cultura afro-americana como quem se fortalece diante da perspectiva da morte ou violência. A meio caminho de Ready To Die, álbum com a morte à espreita, Notorious B.I.G. reservava algumas rimas de “Juicy” para agradecer aos seus heróis de juventude:It was all a dream / I used to read Word Up magazine / Salt'n'Pepa and Heavy D up in the limousine / Hangin' pictures on my wall /Every Saturday Rap Attack, Mr. Magic, Marley Marl. Antes de atear fogo à tensão acumulada entre as várias etnias do bairro de Bed-Stuy, no Brooklyn escaldante de Do The Right Thing, o realizador Spike Lee dava a palavra ao DJ de rádio Love Daddy (um Samuel L. Jackson frenético) para que este referisse todos os nomes possíveis da melhor música negra norte-americana. Contornando a hipótese de ficar aprisionado num disco de hip-hop tão previsível quanto moribundo, Edan (re)descobre vitalidade no old school que tanto ama. Simples.
Menos simples são as técnicas utilizadas para olear a profusão de breaks e sons que ecoam a partir do espírito livre da música de 70 por toda a parte de Echo Party. Não estranharíamos se tais técnicas fossem inspiradas por pioneiros como Sylvia Robinson ou Afrika Bambaataa, mas é soberana a marca do cientista Lee “Scratch” Perry na forma como o delay e a inversão atacam pedaços de Echo Party. A inversão, que bastou para que Lee Perry transformasse “Honey Love” na igualmente dançável “Evol Yenoh”, é agora suficiente para que Edan recupere velhos grooves como nacos de hip-hop fresco e alienígena. Edan não canta, mas toca kazoo, sintetizadores Moog e guitarra até. Tudo isto sem nunca repetir o movimento até que este pareça aborrecido.
Além disso, é bom ter num só disco polpa equivalente à de duas prateleiras (bem exprimidas) do armário de Rui Miguel Abreu, incansável digger de hip-hop e respectivas matérias-primas. Sem ser um objecto essencial, Echo Party retém apenas o essencial num exercício lúdico e arrojado que funciona também como compasso de espera. Edan volta a rondar a meia-hora de duração e logo aí honra uma conduta que muita falta tem feito ao hip-hop: a do anti-entulho (a cura para álbuns onde cabe sempre mais um dueto lamechas e outra participação descabida). Não há lugar para isso nesta lição de um obcecado pronta a ser adoptada por outros obcecados. Alegra-nos reparar que Edan continua apaixonado.
Miguel ArsénioNa citação das suas inúmeras referências musicais, exaustivamente listadas no livrete-manual-de-instruções, Echo Party não destoará assim tanto de outras obras que enumeraram velhas glórias da cultura afro-americana como quem se fortalece diante da perspectiva da morte ou violência. A meio caminho de Ready To Die, álbum com a morte à espreita, Notorious B.I.G. reservava algumas rimas de “Juicy” para agradecer aos seus heróis de juventude:It was all a dream / I used to read Word Up magazine / Salt'n'Pepa and Heavy D up in the limousine / Hangin' pictures on my wall /Every Saturday Rap Attack, Mr. Magic, Marley Marl. Antes de atear fogo à tensão acumulada entre as várias etnias do bairro de Bed-Stuy, no Brooklyn escaldante de Do The Right Thing, o realizador Spike Lee dava a palavra ao DJ de rádio Love Daddy (um Samuel L. Jackson frenético) para que este referisse todos os nomes possíveis da melhor música negra norte-americana. Contornando a hipótese de ficar aprisionado num disco de hip-hop tão previsível quanto moribundo, Edan (re)descobre vitalidade no old school que tanto ama. Simples.
Menos simples são as técnicas utilizadas para olear a profusão de breaks e sons que ecoam a partir do espírito livre da música de 70 por toda a parte de Echo Party. Não estranharíamos se tais técnicas fossem inspiradas por pioneiros como Sylvia Robinson ou Afrika Bambaataa, mas é soberana a marca do cientista Lee “Scratch” Perry na forma como o delay e a inversão atacam pedaços de Echo Party. A inversão, que bastou para que Lee Perry transformasse “Honey Love” na igualmente dançável “Evol Yenoh”, é agora suficiente para que Edan recupere velhos grooves como nacos de hip-hop fresco e alienígena. Edan não canta, mas toca kazoo, sintetizadores Moog e guitarra até. Tudo isto sem nunca repetir o movimento até que este pareça aborrecido.
Além disso, é bom ter num só disco polpa equivalente à de duas prateleiras (bem exprimidas) do armário de Rui Miguel Abreu, incansável digger de hip-hop e respectivas matérias-primas. Sem ser um objecto essencial, Echo Party retém apenas o essencial num exercício lúdico e arrojado que funciona também como compasso de espera. Edan volta a rondar a meia-hora de duração e logo aí honra uma conduta que muita falta tem feito ao hip-hop: a do anti-entulho (a cura para álbuns onde cabe sempre mais um dueto lamechas e outra participação descabida). Não há lugar para isso nesta lição de um obcecado pronta a ser adoptada por outros obcecados. Alegra-nos reparar que Edan continua apaixonado.
migarsenio@yahoo.com
RELACIONADO / Edan