DISCOS
OM
God is Good
· 30 Out 2009 · 01:01 ·
OM
God is Good
2009
Drag City / Flur


Sítios oficiais:
- OM
- Drag City
- Flur
OM
God is Good
2009
Drag City / Flur


Sítios oficiais:
- OM
- Drag City
- Flur
Saramago está enganado: Deus é um tipo porreiro e abençoou um esclarecidíssimo e eclético tratado de stoner rock.
Com a dissolução dos Sleep, o reino perdeu um dos mais incondicionais e potentes bastiões stoner das últimas décadas, mas ganhou, em troca, duas bandas que asseguram a continuidade, ainda que dividida, das principais qualidades da unidade-mãe. Pois bem, a robustez dos Sleep conhece testamento à altura nesse titã de stoner espiritualmente livre que é Dopesmoker, álbum que abriga a faixa homónima, originalmente formada por 63 minutos de riffs repetidos até atingir o nirvana-marijuana. Antes de merecer esse nome, a lenda havia sido lançada, na sua forma editada, com o título de “Jerusalem” (após um desacordo criativo com a London Records). “Dopesmoker” é ainda hoje um pico saliente na paisagem do rock pesado da década de 90 (altura em que foi gravado) e isso só prova que os Sleep eram uma banda com muito amor para dar.

Sem vacilar perante os sopros do hype, a chama e a magia dos Sleep acompanham ainda hoje os seus principais instigadores, nas carruagens que empurram respectivamente: o guitarrista Matt Pike, na batalha High On Fire (onde também grita), e o baixista e vocalista Al Cisneros, na peregrinação por etapas dos OM. O primeiro é o guerreiro, o segundo é o estratega. O segundo pondera a investida, o primeiro atravessa a ponte a todo o custo. E, logo aí, ficamos a saber um pouco sobre como Al Cisneros pensou God is Good, dos OM, com Emil Amos (Grails, Holy Sons), na bateria, em vez do habitual Chris Haiku.

Distante da desbunda dos Sleep, God is Good é, antes de mais, um disco disciplinado (muito mais do que Conference of the Birds) e uma passadeira vermelha preparada para a passagem de três micro-géneros correspondentes a igual número de actos (contenção e explosão, em “Thebes” , conspiração religiosa e rítmica, em “Meditation is The Practice of Death”, dança das arábias e funeral, no díptico “Cremation Ghat”). Mesmo assim, essa estrutura definida não impede que o money shot do disco surja logo aos 8 minutos, quando o baixo de Cisneros deixa a sua pegada de brontossauro num piso até aí formado por uma “setar” delicada. A partir daí, é o baixo que manda no tempo de God is Good.


E tudo tem o seu tempo no universo OM. God is Good acaba por bater forte, quando o relevo acumulado das três faixas com a duração menor desafia a imponência dos 19 minutos da primeira, num duelo desigual, que também terá o seu quê de bíblico. Al Cisneros confirma a sua polivalência na categoria e intensidade que incute ao registo curto e ao longo. É assim que satisfaz quem admira a destreza com que acumula elementos, sem deixar, por outro lado, de aliciar aqueles que possam achar chatos os seus épicos com mais de 30 minutos. Desta vez, teve ainda a sorte de contar com o incrível Emil Amos, que parece ter a sabedoria musical de um Continente em cada um dos braços (América e Ásia).God is Good, por sua vez, tem o comprimento de uma auto-estrada de 70 quilómetros percorrida a 140 quilómetros por hora.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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