Por mais que alguém tente tirar o coelho da cartola, é difícil acrescentar algo de assinalável ao que já foi feito em termos de rock contorcido em espasmos acompanhado por voz feminina assanhada e afectada por TPM. Recuperamos a série de três álbuns lançados pelos Melt Banana, em meados de 90, e o cânone podia logo aí estar encerrado. O próprio Speak Squeak Creak (1995) condensa parte essencial do que importa reter no género (aliando, aliás, as forças de Melt Banana, KK Null e Steve Albini). Os tempos permitiam outro humor na música e os Melt Banana provocavam curiosidade, quando surgiam no canal Viva Zwei agarrados a hambúrgueres gigantescos. Guinchos e hardcore conduzido como teste atómico é um tabuleiro de xadrez que pertence aos Melt Banana.

Estamos em 2009 e os londrinos Pre jogam como se a “parada” fosse ainda ditada pela década anterior. A vida não está fácil para Hope Freaks, o segundo álbum, cuja marcação de território passa essencialmente por riffs no-wave encharcados com três canecas de café puro e o pânico próprio do trabalho de parto. O furacão asiático Akiko Matsuura (a reencarnação das Sleater-Kinney, em “Why Be Wives”) vocifera opiniões sobre fornicação e ócio, enquanto a banda sua balas para que o autocarro-bomba nunca abrande a velocidade. Mas tudo isto parece caducado, no final de uma década que viu os impressionantes Need New Body desaparecerem do mapa e os Polysics prosseguirem diante de relativa indiferença.

Para mais, a imortalidade cabe sempre ao mesmo: Steve Albini, o melhor picador de touros do mundo, assume os créditos de produção (e, com ele, a bateria volta “a tocar no quarto”), mas isso só faz com que os Pre pareçam ainda mais pós-Melt Banana.