DISCOS
Nadja
Numbness
· 03 Set 2009 · 22:36 ·
Nadja
Numbness
2009
Happy Prince


Sítios oficiais:
- Nadja
- Happy Prince
Nadja
Numbness
2009
Happy Prince


Sítios oficiais:
- Nadja
- Happy Prince
Compilação de raridades revela o perfil shoegaze do duo canadiano que nem sempre é capaz de evitar a sombra de Jesu.
Com tão imponente média de discos por ano, os Nadja estão sempre sujeitos aos riscos da saturação. Quem percorre publicações abertas ao metal que deixa pegadas de colosso na lama, não precisa de procurar muito para dar de caras com um novo lançamento de Nadja. E essa omnipresença funciona a favor de um duo cuja natureza é a da ameba que incha sem parar. Em Numbness, colectânea de raridades lançada na japonesa Happy Prince, o bicho permanece esmagadoramente ambidextro (na utilização de guitarra e baixo) e enquadrado numa posição de ataque particularmente shoegaze (por mais que isso irrite os fãs acéfalos de Offspring).

O shoegaze, no caso dos Nadja, ganha forma a partir de um mantra de guitarra que é espezinhado até vindimar uma fusão de ruídos exaustos, que se perdem muitas vezes na colisão entre ritmos industriais e um sludge que é a imagem de marca de Aidan Baker. Como poucos capítulos nesta saga, Numbness revela até onde pode ir a vaga Nadja quando mais parece um avião que sobrevoa rente à nuca. A evidência desta realidade shoegaze (Nadja-delta, se preferirem) residia já no recente disco de versões When I see the Sun Always Shines On Tv, onde a duração do riff de “Only Shallow” dos My Bloody Valentine era multiplicada por quatro, deixando de ser uma descarga eléctrica para passar a ser uma energia que torra os ouvidos.

O único incomodativo num disco de Nadja, dedicado à faceta mais melódica, acaba por surgir nos momentos em que a aproximação ao modelo de Justin Broadrick, nos Jesu, é embaraçosa, ou até mesmo digna de ser julgada em tribunal. Bastariam algumas adaptações para incluir “Long Dark Twenties”, por exemplo, no Iluminado Conqueror de Jesu, sem que ninguém estranhasse. Embora seja bizarro reparar nas semelhanças que unem os dois campeões do género, existe sempre a hipótese de Aidan Baker preservar um sentido de humor que convive bem com o plágio (e com a apropriação de música tradicional em “God Rest Ye Merry Gentlemen”). Independentemente disso, Numbness pode bem ser a melhor rampa de lançamento para entrar na órbita Nadja.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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