Ex-colaboradora de Surfjan Stevens e de sobretudo dos Polyphonic Spree, Annie Clark de seu nome próprio, está de volta como St. Vincent e em boa hora o faz. A verdade é que o seu primeiro Marry Me prometia muito e este Actor está à altura das expectativas. Que bom quando isso acontece. É um conjunto de músicas preciosas, disco-jóia tão brilhante quanto os seus olhos abertos na capa ao mundo inteiro, cristais num rosto de porcelana que parece demonstrar toda a confiança do universo. E com razão.

Pleno de momentos sublimes, é daqueles discos que em relação ao seu precessor nos puxa para os clichés do costume, com palavras como amadurecimento, adulto. É, a Annie está mais adulta, e em torno da angústia de um actor antes do palco construiu uma filigrama indestructível que nos explode na cabeça como flores e caleidoscópios musicais de Busby Berkeley.

E como actor/actriz que se preze, capaz de múltiplas personalidades, quase como uma Kate Bush ou Elizabeth Frazer do séc. XXI, St. Vincent fá-lo também, não tão dotada vocalmente mas genial como instrumentalista, abrindo inúmeras caixinhas de música abertas ao mesmo tempo, desmultiplicando-se em vários estilos díspares, juntos apenas no aprumado sentido “ear candy”, de um mundo pós-Disney. Não é qualquer um que consegue começar um disco com uma das músicas do ano até agora e certamente até ao fim, “The Stranger”, que tem um dos videoclips do ano com a viciante “Actor Out of Work”, e acaba com algumas das coisas mais lindas que já ouvi, “Just The Same But Brand New” e “Sequel”. Exactamente, é mais do mesmo mas nunca o tinha ouvido assim. Grande segundo disco, e eis as mulheres a tomarem conta novamente da 4AD, por agora as Annies, Anni (Rossi) e Annie Clark. Maravilha.