DISCOS
Andrew Bird
Noble Beast
· 16 Jun 2009 · 17:16 ·
Andrew Bird
Noble Beast
2009
Bella Union / Popstock Portugal


Sítios oficiais:
- Andrew Bird
- Bella Union
- Popstock Portugal
Andrew Bird
Noble Beast
2009
Bella Union / Popstock Portugal


Sítios oficiais:
- Andrew Bird
- Bella Union
- Popstock Portugal
Novo capítulo de Andrew Bird é mais uma vitória nesta viagem de ovos misteriosos. Mas até quando?
Andrew Bird já não é segredo para ninguém. Já não é paixão indie assolapada, tesouro que se mostra de amigo em amigo como se fosse a “última descoberta”. Andrew Bird, o seu violino e o seu assobio são já património pop e o norte-americano já nada tem a provar a quem já segue no comboio ou a quem nele quer entrar. Por isso, ou talvez não, Noble Beast é uma continuação fiel do trabalho criado nos dois registos anteriores, The Mysterious Production of Eggs e Armchair Apocrypha, ou seja, não significa especial progressão na carreira de Andrew Bird.

Se nalguns casos o estatismo musical é muito mau sinal (porque insiste em algo pouco válido já de raiz), no caso de Andrew Bird é um mal menor, porque as suas canções mostram um ecletismo e uma profundidade assinalável. Talvez não reste muito a Andrew Bird desta fórmula certeira, mas em Noble Beast o músico decide tentar a sua sorte. E a verdade é que volta a vencer. O violino continua certeiro, o assobio está mais afinado que nunca e as canções fluem naturalmente; de uma fonte que parece inesgotável no que toca a melodias e recursos. A mesma fonte que permite a gestão de um virtuosismo que não é aborrecido nem masturbatório e de uma sabedoria pop que não teme em mostrar os dentes a toda a hora – porque é capaz de gerar excelentes canções.

Noble Beast dificilmente poderia começar melhor. Os seus três primeiros capítulos são notáveis: “Oh No” é perfeita no resumir das sensibilidades e tiques de Andrew Bird, no suave toque acetinado, no gingar suave do vento a soprar ao de leve; “Masterswarm”, que começa recatada para ganhar depois força e frescura em palminhas afirmativas numa viagem pelo continente americano; “Fitz and the Dizzyspells” é marcha pouco temerária com destino à felicidade, descomplexada e positivista. Mas depois são os pequenos pormenores como o inicio belíssimo de “Effigy” a desenhar no céu pautas invisíveis, as cadências improváveis de “Tenousness” ou a atitude de “Anonanimal”. Há ainda aqui muita magia, bastante profundidade. Desta vez, Andrew Bird está safo. Mas torna-se evidente que, tarde o temprano, terá de redefinir estratégias e preparar novo ataque (“Not a Robot, But a Ghost”, com toques de Radiohead, não chega). É que esta - e qualquer outra - misteriosa produção de ovos não pode durar para sempre.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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