Breve história do rock nasal

Capítulo CLXVII – O casal Dan Boeckner e Alexei Perry vai de leste.

Face Control dissipa as dúvidas que sobravam de Plague Park: o amor do casal Handsome Furs é uma guerra entre o quente e o frio. De um lado, uma guitarra descontroladamente incendiária e uma voz glam que escutou atentamente o Evangelho deixado por Bowie. Do outro, electrónica simples e rude programada como terapia de choque e pronta a usar como alarme para despertar quem ainda não tinha percebido que esta exportação canadiana também se dança. Dancemos então como se Face Control fosse tão clandestino quanto o pó que é moeda de troca nos bairros vermelhos, onde o perigo é uma praga sexy.

Mas, antes disso, existe uma vistoria bélica por terminar: em terreno neutro, fica então assente a profundidade de que Dan Boeckner é capaz num registo – feito de guitarras e sintetizadores - mais habituado a refrães-Chiclete e a um vazio generalizado (a sério, os Vive La Fête eram mais do que um bom par de pernas?). Ao alto, a foice e o martelo sob fundo vermelho, porque o trabalho dos Handsome Furs passa essencialmente por uma pop de convicção que comunga de alguns aspectos do electro, tal como do rock canadiano sedeado em Montreal. Sobra apenas o dobbermann representado na capa. Descansem, porque o cão só serve para assustar os The Kills, que deviam perder mais tempo a fazer música do que a olharem-se ao espelho.

Depois disto, ninguém duvida de que, na sua vida como casal, Dan Boeckner (também dos Wolf Parade) e Alexei Perry mantêm conversas bem interessantes antes de adormecer: feito de uma química que vence em grande parte dos casos, Face Control é uma fantasia sonhada a dois, um híbrido que acena, com o mesmo orgulho, uma pinta cosmopolita e uma bandeira de guerrilha. Sem saber, esta jovem já tem em Face Control o seu novo disco favorito. Bom gosto.