DISCOS
Ora Cogan
Harbouring
· 13 Mai 2009 · 14:22 ·
Ora Cogan
Harbouring
2008
Borne! / Popstock


Sítios oficiais:
- Ora Cogan
- Popstock
Ora Cogan
Harbouring
2008
Borne! / Popstock


Sítios oficiais:
- Ora Cogan
- Popstock
Vem do Canadá e escreve canções com a profundidade desejável: uma guitarra e a sua voz é tudo o que Ora Cogan precisa.
Não se pode dizer propriamente que esteja em vias de extinção, mas a canção, tal como a conhecemos, tem hoje cada vez mais obstáculos e desvios de atenção. Por um lado, diferentes e novas opções estéticas, novas abordagens musicais, novos métodos; pelo outro, maus escritores de canções, com pouca imaginação ou com imaginação a mais. Há demasiado ruído à volta da canção e cada vez menos gente com a paciência – ou talento – suficiente para se sentar numa cadeira e, com uma guitarra e só uma guitarra, prestar-se a dar opinião sincera e não romantizada acerca daquilo que lhe vai na cabeça. São ainda menos aqueles que, mesmo reunindo todas essas condições, passam no teste de quem consome música que não é empacotada ou enfiada pela goela abaixo como o prato do dia a 4 euros.

A canadiana que assina este Harbouring é um daqueles casos cujas canções valem em tudo o esforço. Ora Cogan aproxima-se da condição humana, da natureza e da existência mais ou menos da mesma forma que Larkin Grimm o faz, mas acerca-se mais aos territórios estilísticos de uma Grouper de bem com a vida – mas nem sempre. Há uma guitarra eléctrica a traçar cenários múltiplos e uma voz muitas vezes frágil, muitas vezes forte – mas sempre tingida de humanidade. Em “Prairies” percebe-se tudo: a beleza, os poucos raios de luz que trespassam filtrados por uma visão realista do mundo, um certo sentimento de que esta civilização terá falhado algures no processo.

As canções que se seguem, “Vatican city” e “The Way” (que atinge uma pureza espiritual admirável) confirmam uma escritora de canções que foge aos clichés da praxe e constrói um corpo de trabalho próprio, simples e eficaz. A força da sua voz, tão solitária, faz de Harbouring um disco com uma robustez saliente. “You’re not Free”, que parece quase uma resposta a Cat Power, é na verdade uma carta aberta a uma amiga a quem Ora Cogan não vê ponta de liberdade. Tocante, à procura da redenção, “You’re not Free” é a prova mais evidente da força de Harbouring e de Ora Cogan, espécie de catalisadora das energias - boas e más – que o mundo tem vindo a produzir.
André Gomes
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