DISCOS
Tosca
No Hassle
· 07 Abr 2009 · 13:29 ·
Tosca
No Hassle
2009
K7!


Sítios oficiais:
- Tosca
- K7!
Tosca
No Hassle
2009
K7!


Sítios oficiais:
- Tosca
- K7!
Com a chegada da Primavera, o habitual regresso dos Tosca. A poesia sonora, essa que durante anos nos fez feliz, é que já se diluiu nas águas do Danúbio.
Não se poderia esperar muito mais do que por aqui se ouve. E se houve em tempos o desejo de contornar as linguagens elementares da pop enquanto o ideal dub se exercitava entre ritmos hip-hop em slow-motion e resquícios de jazz abstracto, hoje pouco sobra da força espiritual inicial que catapultou o som dos Tosca para a primeira linha da respeitabilidade. Sinais dos tempos ou mera desorientação. Depois do tolerável Dehli9 (2003), já J.A.C. (2005) revelava os primeiros sinais de indecisão na orientação estética. Tanto há 4 anos, como agora, Richard Dorfmeister e Rupert Huber mantém-se encalhados entre o virtuosismo do passado e a urgência da fuga para a frente – soltando de forma irregular os restos da verve melódica que ainda lhes corre nas veias.

Significará isto que estamos perante um mau disco enquanto nos tentam descrever No Hassle como o novo e mais ambiental disco do projecto? Diga-se de boa verdade que os Tosca sempre se movimentaram como poucos num género, só por si, voltado para as actividades mais hedonísticas no sofá, criando amiúde ambientes de leve serenidade, descontracção senão mesmo momentos de introspecção e meditação (como no majestoso e exemplar Suzuki). No Hassle não foge, tal como os seus antecessores, à catalogação downtempo. Apesar de ser um disco repleto de meias verdades que se contradizem, este conjunto de temas é, dentro da medida, um disco com uma sonoridade relativamente previsível onde a faceta autoral dos Tosca se mantém intacta.

Tal como no disco anterior, este quinto álbum de originais é uma soma de temas interessantes intercalados com exercícios inúteis, amorfos e pouco inspirados. As ambiguidades que antes enriqueceram Opera (1997) ou Suzuki (2000) são por aqui usadas como pastiche decorativo sem relevância para narrativa. E conclui-se, inevitavelmente, que a ideia de obra conceptual que caracterizaram os primeiros trabalhos, se eclipsa num amontoado de produção sem direcção definida. A eloquência mantém-se intacta mesmo quando o traço característico do dub desaparece e a guitarra acústica vai ganhando mais protagonismo. Pequenas mutações no código genético que nada de substancial acrescenta à essência sonora do projecto. E bastará ouvir os entediantes «Springer», «Oysters In May», «Elektra Bregenz», «Fondue» e «No Hassle» para perceber até que ponto este disco é definitivamente o mais desinteressante que a dupla de Viena já produziu. Mais uma desilusão este ano.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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