DISCOS
Emeralds
What Happened
· 03 Abr 2009 · 23:22 ·
Emeralds
What Happened
2009
No Fun
Sítios oficiais:
- Emeralds
- No Fun
What Happened
2009
No Fun
Sítios oficiais:
- Emeralds
- No Fun
Emeralds
What Happened
2009
No Fun
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- Emeralds
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What Happened
2009
No Fun
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- Emeralds
- No Fun
Segundo álbum per se do trio de Ohio traz à tona todas as partículas que fizeram deles nome de charneira no obtuso submundo norte-americano.
Apesar da extrema produtividade dos meandros noise, drone ou free vindos do outro lado do Atlântico, se assemelhar perigosamente è reprodução de coelhos (ou ratazanas, por vezes) instaurando um quase anonimato, anomalias acontecem em que certos nomes asseguram uma perenidade algo estranha face ao seu real valor, num meio tão dotado de características desumanas. Aparições fugazes em plataformas pobres mas carinhosas, como a cassete ou o cd-r conseguem estabelecer um culto em seu redor que, assegurando um estatuto importante face a tanta "concorrência" (salutar, entenda-se) não são reveladoras da sua premência quando devidamente contextualizadas na realidade circundante.
Um dos casos paradigmáticos desta situação são os Emeralds, que ao longo de diversas edições nos últimos quatro anos têm vindo a cimentar uma posição de destaque nos cérebros alienados dos barbudos mais atentos. Reconhecendo-lhe virtudes que assegurem alguma valência (como no, ainda assim excessivamente longo Allegory of Alergies), raros são os casos do passado em que os resultados finais se tenham mostrado reveladores da atenção que entretanto se abateu sobre o trio de Ohio. Especulando acerca das razões de tal incidência, e sem querer seguir pela via da desmistificação abstracta, parece residir numa certa acessibilidade face a alguns dos seus pares (como por exemplo, Robedoor ou Ghosting) uma das explicações para que o centro gravitacional da galáxia Emeralds atraia para si ouvintes tangencialmente pouco atentos a movimentações mais obscuras. Nunca assumindo uma faceta descaradamente ruidosa, nem encetando desvios mais alienantes, vão construindo tonalidades dronescas de carácter benigno que tanto podem encontrar âncora na liquidez da kösmiche (Cluster à cabeça), como nas viagens celestiais dos Double Leopards filtradas pela placidez volátil característica dos Frango do ano transacto. Sintetizadores e guitarra vão tecendo uma envolvência acutilante, que encontra neste What Happened alguns dos seus melhores resultados até à data.
Na senda do bem recebido Solar Bridge abandona definitivamente o carácter lo-fi da sua música para se transmutar em formas mais cristalinas, onde os inúmeros pormenores se deixam revelar, sem cairem no ascetismo característico de algumas electrónicas europeias. Enquanto no seu predecessor alguns destes momentos levavam a banda pelos piores momentos de Klaus Schulze, em What Happened assumem uma coerência informal, sabiamente articulando momentos distintos dentro de um mesmo tema sem perder o enfoque necessário para a absorção. "Damaged Kids" é sintomática da sabedoria artesã dos Emeralds, planando num drone aquático sem se afundar, para desembocar num lindíssimo diálogo de sintetizador e guitarra que transpira com o calor de Pop de Gas, antes de elevar a guitarra de Mark McGuire para atmosferas mais ruidosas, sem cair na previsibilidade. De encontro a essa acessibilidade acima referida, "Living Room" abandona graciosamente as melodias dos minutos iniciais para deixar a guitarra em suspensão tecendo as mais belas melodias do grupo até ao momento. O ambient que interessa vive algures neste ponto, confortavelmente sonolento. A respiração mantém-se intocável, até à despedida com a nostalgia carinhosa de "Disappearing Ink" a reaproveitar o legado dos Labradford para o levar a viagens siderais.
Disco imaculado no que respeita aos propósitos que presidem a sua génese, What Happened representa o ponto em que as aventuras inocentes do passado se cristalizam num presente estável, mas longe de ceder ao conformismo, naquela que é a primeira edição da banda (excluindo esse diamante lapidado a meias com Aaron Dilloway de nome Under Pressure) a merecer o epíteto de front-runners que se lhes tem colado.
Bruno SilvaUm dos casos paradigmáticos desta situação são os Emeralds, que ao longo de diversas edições nos últimos quatro anos têm vindo a cimentar uma posição de destaque nos cérebros alienados dos barbudos mais atentos. Reconhecendo-lhe virtudes que assegurem alguma valência (como no, ainda assim excessivamente longo Allegory of Alergies), raros são os casos do passado em que os resultados finais se tenham mostrado reveladores da atenção que entretanto se abateu sobre o trio de Ohio. Especulando acerca das razões de tal incidência, e sem querer seguir pela via da desmistificação abstracta, parece residir numa certa acessibilidade face a alguns dos seus pares (como por exemplo, Robedoor ou Ghosting) uma das explicações para que o centro gravitacional da galáxia Emeralds atraia para si ouvintes tangencialmente pouco atentos a movimentações mais obscuras. Nunca assumindo uma faceta descaradamente ruidosa, nem encetando desvios mais alienantes, vão construindo tonalidades dronescas de carácter benigno que tanto podem encontrar âncora na liquidez da kösmiche (Cluster à cabeça), como nas viagens celestiais dos Double Leopards filtradas pela placidez volátil característica dos Frango do ano transacto. Sintetizadores e guitarra vão tecendo uma envolvência acutilante, que encontra neste What Happened alguns dos seus melhores resultados até à data.
Na senda do bem recebido Solar Bridge abandona definitivamente o carácter lo-fi da sua música para se transmutar em formas mais cristalinas, onde os inúmeros pormenores se deixam revelar, sem cairem no ascetismo característico de algumas electrónicas europeias. Enquanto no seu predecessor alguns destes momentos levavam a banda pelos piores momentos de Klaus Schulze, em What Happened assumem uma coerência informal, sabiamente articulando momentos distintos dentro de um mesmo tema sem perder o enfoque necessário para a absorção. "Damaged Kids" é sintomática da sabedoria artesã dos Emeralds, planando num drone aquático sem se afundar, para desembocar num lindíssimo diálogo de sintetizador e guitarra que transpira com o calor de Pop de Gas, antes de elevar a guitarra de Mark McGuire para atmosferas mais ruidosas, sem cair na previsibilidade. De encontro a essa acessibilidade acima referida, "Living Room" abandona graciosamente as melodias dos minutos iniciais para deixar a guitarra em suspensão tecendo as mais belas melodias do grupo até ao momento. O ambient que interessa vive algures neste ponto, confortavelmente sonolento. A respiração mantém-se intocável, até à despedida com a nostalgia carinhosa de "Disappearing Ink" a reaproveitar o legado dos Labradford para o levar a viagens siderais.
Disco imaculado no que respeita aos propósitos que presidem a sua génese, What Happened representa o ponto em que as aventuras inocentes do passado se cristalizam num presente estável, mas longe de ceder ao conformismo, naquela que é a primeira edição da banda (excluindo esse diamante lapidado a meias com Aaron Dilloway de nome Under Pressure) a merecer o epíteto de front-runners que se lhes tem colado.
celasdeathsquad@gmail.com
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