DISCOS
Actress
Hayzyville
· 04 Mar 2009 · 09:49 ·
Patrão da Werk lança complexa e distorcida tapeçaria onde o deep-house partilha espaço com o universo soturno do dubstep.
Não será difícil imaginar Hazyville na tômbola onde se movimentam as mais recentes tendências da nova música de dança urbana. E se centra boa parte da sua acção na tentativa de redefinição dos tiques mais paranóicos do techno enquanto saúda o deep-house mais narcótico, não será menos verdade que Darren Cunningham tem nas ambiências melancólicas do dubstep um discreto escape para uma realidade virtual urbana onde se movimentam sinistramente o stress, o receio, o medo com soturna irresponsabilidade. Mesmo que soe quente, Hazyville é frio e directo na sua mensagem, mesmo nos momentos em que tenta criar alguma empatia com o melómano.
Dono de uma das mais reputadas editoras do momento – que recentemente ofereceu ao mundo o revivalismo rave de Zomby e o estranho mundo de Lukid –, Darren Cunningham enquanto Actress vive no mesmo quarteirão pantanoso que deu ao mundo algumas das mais recentes e interessantes experiências sonoras, não se inibindo de referenciar Theo Parrish, e a sua mescla house pastosa, enrugada e sensualmente repetitiva, o ambiente enigmático de Boards of Canada, a sedução de Moodymann ou mesmo o mago das electrónicas Aphex Twin. As vozes em ocasionais tropeções r&b, movimentam-se entre deformações sonoras que tanto elogiam a distorção como permitem a subversão das leis elementares da química permitindo que o funk ou o acid marquem discreta presença na complexa tapeçaria de Hazyville.
Sinal óbvio da promiscuidade criativa, o disco choca sem bater. Exerce alguma violência no ouvido sem o deixar entorpecido, tal como insiste no que, por vezes, é pouco simpático e lógico. Lá terá sua razão de existência no desenrolar da acção, mesmo que se conclua que esteticamente tenha marcas de nascença pouco bonitas. De design irregular, como alguns dos discos que tem promovido via Werk, Cunningham dá o exemplo demonstrando iniciativa na quebra de fórmulas e na tentativa de dinamização de géneros sem obrigatoriamente inventar algo de novo. Porque se há algo que Hazyville prova é que é possível fazer-se um disco de ghetto, turvo e enlamaçado com pés e cabeça – leia-se inteligente – sem massacrar a pinha com ambiguidades pseudo-intelectuais sem sentido.
Rafael SantosDono de uma das mais reputadas editoras do momento – que recentemente ofereceu ao mundo o revivalismo rave de Zomby e o estranho mundo de Lukid –, Darren Cunningham enquanto Actress vive no mesmo quarteirão pantanoso que deu ao mundo algumas das mais recentes e interessantes experiências sonoras, não se inibindo de referenciar Theo Parrish, e a sua mescla house pastosa, enrugada e sensualmente repetitiva, o ambiente enigmático de Boards of Canada, a sedução de Moodymann ou mesmo o mago das electrónicas Aphex Twin. As vozes em ocasionais tropeções r&b, movimentam-se entre deformações sonoras que tanto elogiam a distorção como permitem a subversão das leis elementares da química permitindo que o funk ou o acid marquem discreta presença na complexa tapeçaria de Hazyville.
Sinal óbvio da promiscuidade criativa, o disco choca sem bater. Exerce alguma violência no ouvido sem o deixar entorpecido, tal como insiste no que, por vezes, é pouco simpático e lógico. Lá terá sua razão de existência no desenrolar da acção, mesmo que se conclua que esteticamente tenha marcas de nascença pouco bonitas. De design irregular, como alguns dos discos que tem promovido via Werk, Cunningham dá o exemplo demonstrando iniciativa na quebra de fórmulas e na tentativa de dinamização de géneros sem obrigatoriamente inventar algo de novo. Porque se há algo que Hazyville prova é que é possível fazer-se um disco de ghetto, turvo e enlamaçado com pés e cabeça – leia-se inteligente – sem massacrar a pinha com ambiguidades pseudo-intelectuais sem sentido.
r_b_santos_world@hotmail.com
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