DISCOS
Tindersticks
The Hungry Saw
· 12 Fev 2009 · 00:03 ·
Tindersticks
The Hungry Saw
2008
Beggars Banquet / Popstock


Sítios oficiais:
- Tindersticks
- Beggars Banquet
- Popstock
Tindersticks
The Hungry Saw
2008
Beggars Banquet / Popstock


Sítios oficiais:
- Tindersticks
- Beggars Banquet
- Popstock
Em antecipação de mais uma passagem dos Tindersticks por Portugal, pusemos os ouvidos no afrancesado Hungry Saw, de 2008.
Na liturgia da música popular, as devoções de massas a ídolos têm sido às centenas e os Tindersticks são uma dessas bandas para quem o prestar culto ainda é quase uma forma de vida, considerada indevida por uns quantos, argumentada por terem surgido e caído no goto quando se juntou a fome e a vontade de comer. As divindades são seres quase sempre da outra dimensão e os Tindersicks também estiveram próximos disso. Com a saída em 2006 de três membros centrais da banda (incluindo um não tão menos importante quanto isso, Dickon Hinchliffe, dos violinos e arranjos), chegou a temer-se que Waiting For The Moon de 2003 pudesse ser o último disco dos britânicos. Mas 2008 trouxe The Hungry Saw e mais um conjunto de canções para gente que gosta de fingir que pular da janela faz parte dos seus pensamentos frequentes.

Em trio alargado, os Tindersticks não são realmente muito diferentes do que eram no formato anterior. É Stuart Staples quem dá alma a estas músicas, descrevendo histórias com a sua voz de barítono enquadradas em músicas de multi-camadas conceptuais e letras literárias, marcadas pela culpa e pela dúvida. Nestes ofícios da densidade e do obtuso, Staples soa diferente a todos os ângulos e descreve emoções humanas através da verbalização dos sentimentos que lhe estão associadas. Essa é das actividades mais antigas do espírito literato, e os Tindersticks fazem-na desde o início com graça e elegância. Há sementes do romantismo sempre prontas a desabrochar, e a arca frigorífica dos tempos do romantismo abalável e onde Staples vai buscar inspiração parece não ter fim.

Não chega nunca a atingir a aura de outros tempos, mas tem as suas paragens de interesse. “Yesterdays Tomorrows” vai todo o caminho com uma marcação ao compasso. No refrão entra o trompete e põe tudo num plano mais elevado que engrandece o tema, deixando para trás do pensamento a falta do velho excesso. “The Hungry Saw” é a mais bruta de todas, retornando a um lado mais físico da banda que não foi muito explorado no resto, com uma linha de guitarra escorregadia e percussão vocal e instrumental na mesma linha. “Boobar Come Back to Me” é a última das canções onde se sente a paixão renovada da banda e uma das que mais faz por merecer este disco. Entre frescura, coros com resposta pronta e pendor r&b, sentem-se uns Tindersticks que fizeram bem em não terminar.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
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