DISCOS
Grails
Doomsdayer's Holiday
· 19 Dez 2008 · 09:44 ·

Grails
Doomsdayer's Holiday
2008
Temporary Residence / Sabotage
Sítios oficiais:
- Temporary Residence
- Sabotage
Doomsdayer's Holiday
2008
Temporary Residence / Sabotage
Sítios oficiais:
- Temporary Residence
- Sabotage

Grails
Doomsdayer's Holiday
2008
Temporary Residence / Sabotage
Sítios oficiais:
- Temporary Residence
- Sabotage
Doomsdayer's Holiday
2008
Temporary Residence / Sabotage
Sítios oficiais:
- Temporary Residence
- Sabotage
Pós-rock nómada folheia as páginas mais heréticas da História em busca de chama.
É insaciável a cruzada que, nos últimos anos, tem transformado os Grails numa das bandas mais capazes de reformular e reviver a História através da música. Sendo que o termo “música” pode até parecer insuficiente para descrever tão fértil palete de instrumentos e técnicas de produção como esta (que – pasme-se – inclui até dub). Acelerando a metamorfose, os Grails tornam-se numa banda de pós-rock nómada que não pára de conquistar território musical ensombrado (o Tibete e o Médio Oriente espreitam) à medida que absorve os ambientes de episódios pertencentes a uma História paralela mais afectada pelo macabro e outros azares fatais. Sejamos contudo cautelosos, porque “pós-rock nómada” pode até ser carapuça demasiado tosca para enfiar em tão imponente cabeça como aquela que pensa um disco tão profundamente negro como Doomsdayer’s Holiday.
Sem querer puxar a brasa àquele que parece ser o mais inspirado e lúcido membro dos Grails, o baterista Emil Amos (que também toca nos OM), é importante frisar que Doomdayer’s Holiday assemelha-se ocasionalmente a uma ampliação mais rock de tudo o que é secretamente alquímico no soberbo Decline de of the West de Holy Sons (projecto solitário de Emil): evidencia a mesma sabedoria enciclopédica, adormece temporariamente entre a bruma de alguns recursos mais climáticos e, em “The Natural Man”, sopra as mesmas flautas entregues à deriva de quem espera descontraidamente pelo fim do mundo (anunciado por ambos os discos).
Por sua vez, como qualidade muito própria, Doomsdayer’s Holiday revela uma facilidade tremenda em renovar-se, como uma esfera de metal que reflecte as alterações súbitas de algumas batalhas históricas. Nesse aspecto, os Grails adoptam os Sun City Girls como guias espirituais de uma abundância étnica e formal praticamente incaracterizável. A partir daqui, são livres todo o tipo de associações: o riff ciclópico de “Doomsdayer’s Holiday” reaviva a memória de uns Grails mais concisos no seu empilhamento de circunstâncias épicas; “The Natural Man” não seria o mesmo sem a bênção de Ennio Morricone; “Predestination Blues” fica um pouco aquém da siamesa “Satori”, a implacável versão dos Flower Travellin’ Band que ainda hoje será dos melhores momentos dos Grails registados em disco.
Tal como acontecia com alguns dos seus homólogos, Doomsdayer’s Holiday acaba por vacilar um pouco devido à sua falta de coesão. Quer pela sua idêntica estrutura em ruínas, quer pela aparência de monumento maldito, relembra que o filme Calígula, delirante e tirânica orgia de Tinto Brass centrada nesse Imperador Romano, era ambicioso na sua colagem de momentos arrojados, mas, em último caso, chato por ser estupidamente inconclusivo. Sem ser tão desmedido como esse fiasco italiano (até porque não conta com 20 versões diferentes), Doomsdayer’s Holiday satisfaz, uma vez mais, os que preferem uns Grails itinerantes e deixa frustrados todos os restantes que queriam mais peso como o do riff que rasga a faixa-título. A fome dos Grails gera mais fome. Doomsdayer’s Holiday é um óptimo disco, ainda que exija muita paciência.
Miguel ArsénioSem querer puxar a brasa àquele que parece ser o mais inspirado e lúcido membro dos Grails, o baterista Emil Amos (que também toca nos OM), é importante frisar que Doomdayer’s Holiday assemelha-se ocasionalmente a uma ampliação mais rock de tudo o que é secretamente alquímico no soberbo Decline de of the West de Holy Sons (projecto solitário de Emil): evidencia a mesma sabedoria enciclopédica, adormece temporariamente entre a bruma de alguns recursos mais climáticos e, em “The Natural Man”, sopra as mesmas flautas entregues à deriva de quem espera descontraidamente pelo fim do mundo (anunciado por ambos os discos).
Por sua vez, como qualidade muito própria, Doomsdayer’s Holiday revela uma facilidade tremenda em renovar-se, como uma esfera de metal que reflecte as alterações súbitas de algumas batalhas históricas. Nesse aspecto, os Grails adoptam os Sun City Girls como guias espirituais de uma abundância étnica e formal praticamente incaracterizável. A partir daqui, são livres todo o tipo de associações: o riff ciclópico de “Doomsdayer’s Holiday” reaviva a memória de uns Grails mais concisos no seu empilhamento de circunstâncias épicas; “The Natural Man” não seria o mesmo sem a bênção de Ennio Morricone; “Predestination Blues” fica um pouco aquém da siamesa “Satori”, a implacável versão dos Flower Travellin’ Band que ainda hoje será dos melhores momentos dos Grails registados em disco.
Tal como acontecia com alguns dos seus homólogos, Doomsdayer’s Holiday acaba por vacilar um pouco devido à sua falta de coesão. Quer pela sua idêntica estrutura em ruínas, quer pela aparência de monumento maldito, relembra que o filme Calígula, delirante e tirânica orgia de Tinto Brass centrada nesse Imperador Romano, era ambicioso na sua colagem de momentos arrojados, mas, em último caso, chato por ser estupidamente inconclusivo. Sem ser tão desmedido como esse fiasco italiano (até porque não conta com 20 versões diferentes), Doomsdayer’s Holiday satisfaz, uma vez mais, os que preferem uns Grails itinerantes e deixa frustrados todos os restantes que queriam mais peso como o do riff que rasga a faixa-título. A fome dos Grails gera mais fome. Doomsdayer’s Holiday é um óptimo disco, ainda que exija muita paciência.
migarsenio@yahoo.com
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