DISCOS
Tennis
Furlines
· 08 Fev 2003 · 08:00 ·
Tennis
Furlines
2002
Bip-Hop


Sítios oficiais:
- Bip-Hop
Tennis
Furlines
2002
Bip-Hop


Sítios oficiais:
- Bip-Hop
A pequena editora francesa Bip-Hop (com representação em Portugal via AnAnAnA) culmina em “Furlines” dois anos de intensa actividade em que deu ao mundo alguma da mais interessante música na área do Avant Garde e experimental. Scanner, Tonne ou Twine são apenas alguns dos cerca 50 nomes que já apareceram com selo Bip-Hop, quer em álbuns a solo quer em compilações de cariz internacional que a editora apresenta como “Bip-Hop Generation”. O volume seis foi editado como comemoração dos dois anos de actividade, contando com colaborações de Scanner, Ilpo, Angel, Battery Operated, Alejandra & Aeron e Bittonic.

“Furlines” é o terceiro disco do projecto Tennis, de Douglas Benford e Benjamin Edwards e apresenta-se num convidativo pacote digipack de dois discos. Se se pode aplicar o adjectivo “atractivo” ao pacote, a verdade é que a música fica muito aquém das expectativas. Algures na linha de uma série de pequenas editoras europeias de música experimental (Pong, Ad Noiseam, entre outras) os temas que fazem parte deste terceiro disco da dupla Tennis apostam na repetição maçadora de elementos electrónicos com ponto de partida em ruídos aborrecidos e chegada em ritmos desorganizados e sem orientação estética de grande acervo. Apesar disso, uma audição cuidadosa e descomprometida deste disco mostra alguma qualidade criativa num tipo de música que teima em ser ainda por muitos considerada menor. Pior que isso, este disco não transporta nada de inovador ao género o que deverá levar os tais “puristas” a torcer ainda mais o nariz.

O disco habita numa lógica orientadora em ambientes que evocam o lado obscuro das árvores, das florestas e dos animais. Esse lado criativo é algo que se pode conduzir a favor do disco, mas que podia ser mais explorado. Mesmo assim, essas esferas ambientais assomam aqui sob a conformação de medo, desconfiança, solidão e apreensão. Entramos por entre uma floresta obscura sozinhos, onde pequenos ruídos nos levam a temer que alguma coisa nos possa acontecer e que algo aflore da escuridão. Chegamos ao fim felizes por termos escapado sem que nada nos tenha acontecido, mas por certo não queremos repetir a experiência tão cedo. É mais ou menos esta a história adaptada à ideia do disco que pode ser utilizada para definir “Furlines” sem nos referirmos aos elementos musicais.

Como a Bip-Hop faz anos, a prenda surge com um segundo CD bónus de oferta que contém remixes do anterior disco do projecto (sob o signo da mesma editora). Artistas como Taylor Deupree, ElectroniCat ou Scanner recontextualizam os temas de “Europe on Horseback”, embora sem grandes rasgos de génio nem grandes alterações formais. Algumas músicas aproximam-se mais do formato canção, mas ainda assim ficam bastante longe dele. Destaca-se o tema “Loose-knit Perrot” remisturado pelo desconhecido Mikael Stavostrand.

Devedor das escolas europeias da nova música electrónica experimental, mas também de um certo prazer experimentalista próprio, “Furlines” é um disco que fica a meio caminho entre algo que podia ser bom mas que apresenta uma mão cheia de eixos a alterar. Que melhores dias venham.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
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