DISCOS
Machinefabriek
Dauw
· 25 Set 2008 · 08:00 ·
Machinefabriek
Dauw
2008
Dekorder


Sítios oficiais:
- Machinefabriek
- Dekorder
Machinefabriek
Dauw
2008
Dekorder


Sítios oficiais:
- Machinefabriek
- Dekorder
Estaticidade outonal em paleta technicolor.
Parece inevitável delinear uma descrição sucinta de um disco "outonal" sem que esta se perca por entre um imaginário de tons sépia (campo) e cinzentos (cidade) a atirar para a resenha sonhadora e assustadoramente umbiguista. Dauw está talhado para os ramos despidos e chuviscos matinais tão característicos desta altura que, imbuído na sua melancolia aconchegadora, é manta perfeita para o final de tarde prazenteiro da casa de campo que se instala despudoradamente em qualquer apartamento estéril.

Longe do formalismo ambient de sala de jantar, Dauw desabrocha lentamente na sua própria suspensão, feita de pequenos sons (guitarra, piano, gravações de campo, etc.) que, obedecendo a uma lógica interna apaziguadora delineiam suaves semi-melodias sem se deter em escusadas melopeias balofas e lamechas. Partilhando afinidades com a estaticidade nocturna de Svarte Greiner (com quem já colaborou), o projecto de Rutger Zuydervelt deixa-se invadir por uma luminosidade que nunca chega a resplandecer na tensão latente Knife, embrenhando-se na melancolia do lusco-fusco de Outubro. Partindo das premissas já devidamente escalonadas nos inúmeros CD-Rs de 3" em edição de autor, Dauw permite-lhe (pela maior duração) expandir algumas novas ideias que essas edições nunca poderiam suportar.

Álbum tranquilo mas raras vezes desinteressante (embora algo previsível), é demonstrativo da evolução de Machinefabriek enquanto escultor de sons, manipulando com mestria samples de vinil poeirentos (um Philip Jeck mais vaporoso) que, de encontro aos apontamentos melódicos de tons menores, enriquecem assim as composições sonâmbulas do holandês. E se a sua posição confortável poderá levar a que se instaure alguma apatia, as bem vindas implosões de ruídos concretos em "Fonograaf" ou a exploração de cenários mais dronescos na final "Singel" impedem que a sua estreia para a editora Dekorder resvale para a dormência. Regressadas que estão as folhas de plátano aos passeios, Dauw é aquele sentimento reconfortante do crepitar destas sobre os nossos pés pela manhã enevoada.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
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