Muito se parece o efeito gradual de Portal com o do fumo que liberta o turíbulo, vasilha de metal normalmente preenchida por incenso e utilizada em missas solenes. Como a mão que gira no ar o turíbulo, Alexander Tucker depende principalmente da repetição de movimentos como forma de criar o terreno quimérico de Portal. Basta muitas vezes ao músico britânico bipolarizar a sua folk-rock de visões, unindo imaculados loops de mandolim e guitarra eléctrica perdida em distorção insubmissa, para que Portal justifique o seu título e seja viável amostra da elevação a que se compromete.

Como o fumo libertado pelo incensário, Portal procura instalar sensações de envolvência e transe através da perpetuação de auxiliares intrinsecamente seus (a aura vocal de Alexander Tucker é implacavelmente convidativa) e outros tão recorrentes que a citação torna-se insultuosa (o aspecto peregrino das mais exóticas “malhas” de Led Zeppelin continua a ser mossa influente verificável em “Poltergeists Grazing”, entre muitas).

Fumo lançado não deixa, mesmo assim, de ser vago e transitório. De igual modo, Portal peca – e fica a vários passos do Olimpo – por ser inconclusivo e pouco distinto, mesmo que a simplicidade atraente dos seus mantras acústicos facilite o entranhar dos mesmos. À partida, era até aceitável que um disco destes se perdesse entre dispositivos imediatos e outros mais esotéricos (servidos pela sua instrumentação mais “fora”), mas falta qualquer coisa de essencial a Portal. Talvez a frescura.

No fundo, é como se a Academia algum dia decidisse homenagear a carreira de Oliver Stone, criando uma montagem com todas as cenas dos seus filmes que incluam índios e aparições milagrosas (Jesus Cristo e uma garrafa de água). Imagine-se depois que alguém tentava criar uma banda-sonora para essa amálgama de 20 minutos. Não deixaria de ser curioso e recompensador, após a devida adaptação, mas, a longo prazo, a banda-sonora Portal seria apenas mais um turíbulo com direito a uso ocasional ao Domingo.