DISCOS
Wildbirds & Peacedrums
Heartcore
· 18 Jun 2008 · 08:00 ·
Wildbirds & Peacedrums
Heartcore
2008
Leaf / Flur


Sítios oficiais:
- Wildbirds & Peacedrums
- Leaf
- Flur
Wildbirds & Peacedrums
Heartcore
2008
Leaf / Flur


Sítios oficiais:
- Wildbirds & Peacedrums
- Leaf
- Flur
Duo atesta o bom estado de saúde gozado pela pop sueca, aqui servida na sua forma mais essencial e proveitosamente transitória.
Há que admirar o hardcore e o seu meio pela permissividade com que, certas vezes, cede espaço a escritores de canções como participantes especiais num cartaz dominado por bandas geralmente indispostas a moderar o pé sobre o pedal da atitude in your face. É bonito reparar em como rapazes motivados por resoluções de aço admitem amigavelmente o convívio com quem canta a indecisão e o sentimento fragilizado. Há algum tempo, uma matiné de hardcore albergava na mesma Crew Hassan, sala anexa ao Rossio de Lisboa, o screamo mais ríspido dos Off Minor e a debutante songwriter à flor da pele Can't Sing for Shit, e, apesar de serem distintas as presenças, ninguém estranhava a proximidade entre os dois nomes.

Com a equivalente naturalidade de quem não teme (encorajando até) a discrepância entre os ânimos que partilhem das mesmas paredes-meias, Heartcore (trocadilho com hardcore) é um daqueles discos que muito pinta com pouca tinta - concede soberania total à orgânica dos seus instrumentos predominantemente acústicos (percussão esparsa, glockenspiel, etc.) e admite depois uma bifurcação que o leva o seu coração-canção a bombear sangue no sentido de resultados mais exaltados e outros mais solenes e herméticos na conservação de tudo o que é mais sagrado (um pouco como os mais célebres talentos musicais islandeses encasulam e protegem a magia élfica própria da sua identidade).

A dualidade e o paradoxo residem no próprio nome do duo Wildbirds & Peacedrums, formado pelos suecos Mariam Wallentin (ela que sofre os blues na voz) e Andreas Werliin (ele que amplifica o relevo da canção mantendo esquelética a sua estrutura), responsáveis por um Heartcore que é estreia pessoal e enésima confirmação de que a pop Sueca actual vive um estado de graça que persiste em não fracassar. Não deixando de ser verdade que falta ocasionalmente alguma inspiração e “uma unha” a alguns momentos para atingir o ponto seguro do memorável, também é facilmente constatável que existe por aqui basta colheita de canções frescas como a fruta da época ou, pelo menos, na eminência disso. Como disco que sobrevoa diferentes estações e aglomera em si os vários perfumes recolhidos às mesmas (do já referido blues até ao beat cerimonioso de Patti Smith), Heartcore pode sempre bater asas até outra paragem quando se dá mal em determinado ninho. É ave rara e livre ao lado da qual apetece voar.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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