DISCOS
Ponytail
Ice Cream Spiritual
· 16 Jun 2008 · 08:00 ·
Ponytail
Ice Cream Spiritual
2008
We Are Free


Sítios oficiais:
- Ponytail
- We Are Free
Ponytail
Ice Cream Spiritual
2008
We Are Free


Sítios oficiais:
- Ponytail
- We Are Free
Avancem entusiasmados todos aqueles que apreciam levar uma valente sova de indie garantidamente marcial e espasmódico.
Não é todos os dias que se dispõe da oportunidade de contar com um ícone menor da disco music de tacões altos como tutor de referência na tarefa de cuidar opinativamente de um álbum aqui pelo Bodyspace. Assim acontece, porque tudo que haveria a dizer sobre Ice Cream Spiritual, o segundo capítulo na discografia dos Ponytail, já foi adiantado em 1974 por Carl Douglas na letra do seu afamado single “Kung Fu Fighting”, tema sugestivamente sexual e impregnado de kitsch exótico, embora entretanto saturado pela repetida inclusão em todo o tipo de bandas-sonoras de comédias centradas na premissa de que a obesidade e as artes marciais são realidades praticamente inconjugáveis. Para mais, Carl Douglas conseguiu, com “Kung Fu Fighting”, resumir antecipadamente toda a essência de Ice Cream Spiritual e dos Ponytail em pouco mais que uma estrofe – essa que, dividida em versos, se usa como mote para as seguintes anotações auxiliares. (A letra é idiomática e tão popular no imaginário de todos que dispensa qualquer tipo de tradução).

Everybody was kung fu fighting

Todos os quatro membros dos Ponytail, evidentemente. Todos eles apologistas incondicionais de que o rock armazenado em ogiva de múltiplas estratégias de ataque pode também ser activado à tareia, queimando o “bicho carpinteiro” acumulado como se este fosse excesso calórico indesejado, provocando a confrontação “à cabeçada” entre duas guitarras assanhadas e apelando a que posteriormente ambas façam as pazes em danças da chuva e outros rituais amigáveis de contornos, mesmo assim, selvagens. É importante também acrescentar que a encenação bélica de duas guitarras kamikaze é cada vez mais a imagem de marca de uma nova escola Baltimore que na sua nuca viu nascer os Ponytail (além dos Ecstatic Sunshine que emprestam um membro à formação de Ice Cream Spiritual).

Those kids were fast as lighting

Sem dúvida, caro Carl. Tão rápidos como um trovão no entrosamento alucinante obtido entre os instrumentos que se espicaçam mutuamente. Tão desavergonhados como os criadores de Dragon Ball Z (muito mais violento que a série original) no espaço cedido ao histerismo puro das lutas aéreas – histerismo esse que, neste caso, é monstro invocado à lamparina pulmonar de uma Molly Siegel que tem estridência e sangue fervente em quantidades suficientes para deixar a andar de muletas muitos oponentes. Não foi por acaso que o primeiro disco de Ponytail mereceu o título de Kamehameha (palavras mágicas que, quando proferidas no Dragon Ball Z, indicavam que um imenso chavascal pirotécnico estava prestes a materializar-se).

In fact it was a little bit frightening

Temível ao ponto de ninguém considerar sequer a hipótese de ir a um concerto de Ponytail sem capacete. Temível ao ponto de algumas músicas de Melt Banana e Deerhoof parecerem agora uma meiguice.

But fought with expert timing

Timing mais exacto só mesmo o teu, Carl.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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