Colher Summer Feelings a Wroclaw, na Polónia, é uma actividade que exige um maior cuidado cientifico do que, por exemplo, colhê-los a uma qualquer praia da Costa Vicentina, em Portugal. O rigoroso frio que geralmente domina o clima na Polónia faz com que os dias mais amenos sejam tão raros quanto preciosos. Tomasz Bednarczyk, jovem músico polaco nascido em 1986, ano de desastrosas campanhas da Polónia e Portugal no Campeonato do Mundo decorrido no México, aproveitou o colorido das reminiscências de um verão anterior e dedicou o seu primeiro longa-duração, após o EP So Nice, à consideração dos vários episódios servidos por essa estação.

Summer Feelings só podia resultar de um demorado e atento processo de vigilância de quem aguarda pelos meses de florescimento de uma orquídea peculiarmente sazonal, para depois armazenar em refrigeração as suas fragrâncias. Determinantes no selar hermético dessa refrigeração são as teias de field recordings sedosos e glitch ruminante que, por sobreposição, conferem quarentena a todo o sopro melódico que liberta um álbum fotográfico à medida que é folheado. Com isto, Tomasz Bednarczyk, habitante de uma cidade académica, assume-se como prodigioso estudante dos legados deixados por Brian Eno e Harold Budd (termos sagrados inevitáveis neste remate comparativo). Com um disco que destila até à sua essência as sensações absorvidas àquela tardinha e àquele jardim, obtém um bom postal da pacificação, tal como registado na Polónia.