DISCOS
Dennis Driscoll
My Grave Is Kept Clean
· 11 Fev 2008 · 08:00 ·

Dennis Driscoll
My Grave Is Kept Clean
2007
Edição de Autor
Sítios oficiais:
- Dennis Driscoll
- Edição de Autor
My Grave Is Kept Clean
2007
Edição de Autor
Sítios oficiais:
- Dennis Driscoll
- Edição de Autor

Dennis Driscoll
My Grave Is Kept Clean
2007
Edição de Autor
Sítios oficiais:
- Dennis Driscoll
- Edição de Autor
My Grave Is Kept Clean
2007
Edição de Autor
Sítios oficiais:
- Dennis Driscoll
- Edição de Autor
Dennis Driscoll veste, desta vez, a pele de fantasma amigável e acrescenta mais um valioso volume ao seu cancioneiro de pop ingénua.
A aparente ingenuidade que torna única a figura de Dennis Driscoll não o impede de ser absolutamente convincente e intrigante na “paródia amigável” que tece ao culto do mórbido que, geralmente, torna mais rentável e adorado a obra de alguém num tempo póstumo à sua vida. A falácia, tal como montada pelo songwriter que alega ter nascido numa ostra, passa pela assunção do protagonismo num teatrinho onde a morte é apenas fingida – conforme permanece simbolizado na capa do presente disco, em que um Dennis Driscoll desenhado comunica com a sua projecção defunta. O tom adoptado, na ilustração tal como na música, comporta um misto de excentricidade sem filtro e uma grande dose de reverência para com os ídolos declarados do próprio (Elliott Smith, que conheceu pessoalmente, Kurt Cobain e Daniel Johnston, que se parodiou a si mesmo num jeito semelhante com a compilação Discovered, Covered: The Late, Great Daniel Johnston).
No fundo, a mensagem que Dennis Driscoll tenta veicular através de My Grave Is Kept Clean é a de que crê que a magia e desarmante transparência deste seu conjunto de canções podia eventualmente conquistar mais pessoas se o seu nome estivesse já gravado numa campa – até porque, afinal, a morte prematura de alguém fomenta as mais consensuais aclamações (sem haver nada de errado nisso). Contudo, é radicalmente cândida a exploração do conceito fúnebre por parte do seu artificie, cujo ímpeto terá levado a que aproveitasse para o título do seu álbum parte de “See That My Grave Is Kept Clean”, tema original de Blind Lemon Jefferson celebrizado pela cover de Bob Dylan. E será apenas necessário ler duas porções do diário online do próprio para concluir que a pretensão não consta da lista de defeitos do filho pródigo de Illwaco, Washington – sendo, além disso, evidente que amealhar fortunas não é ambição de quem se limitou a lançar o disco em formato MP3 e por conta própria.
Convenientemente, My Grave Is Kept Clean antes prefere revelar-se como conjunto de canções emitidas a partir de um “além” incerto onde melodias e harmonias ora açucaradas ora assustadoras (tanto quanto um filme para maiores de 16) são premissas fundamentais de uma existência irreversivelmente alienada. Driscoll sustém esse jogo arriscando-se, ao mesmo tempo, a formar antítese do disco sério e sisudo que este poderia ser nas mãos de outro individuo, e a aproximar-se – acidentalmente, presume-se – do que pode ser uma mais estável e infantil versão miniatura da ópera apropriada por Tom Waits em The Black Rider.
Toda esta fantasia fantasmagórica teria os seus alicerces ameaçados caso não assentasse sobre um diamante pop intitulado “Red Horse”, acerca do qual tudo já havia sido dito por aqui, quando o Bodyspace faz o seu balanço das melhores canções pertences ao ano de 2007. Se é verdade que nenhuma das restantes treze (catorze, se for contabilizado o reprise assombrado de “Lovely Weekend”) canções se encontram à altura de ombrear com “Red Horse” na sua capacidade de perdurar no tempo, não deixa der ser igualmente válido sublinhar que toda a dimensão de My Grave Is Kept Clean atesta Dennis Driscoll como malabarista polivalente que não teme ter mais que quatro ou cinco esferas a circular livremente entre as mãos e o ar – serve isso para esclarecer que, dentro da sua simplicidade, uma composição típica do príncipe esquecido da K Records chega a somar um órgão pachorrento, a lírica lúdica do próprio, guitarra discreta e loops trabalhados à imagem do cinema série-b. Todos esses elementos equivalem a operários que trabalham em equipa para vencer no campeonato das “pequenas grandes canções”. E a verdade é que, quando não atingem esse objectivo, ficam sempre perto do topo.
A bravura dos tais elementos honra um Dennis Driscoll que, conforme já adiantara em entrevista a esta casa, atreveu-se a incluir a voz de Kurt Cobain a proferir shut up na dormente e deslumbrante marcha nupcial que é “Hades Nightgown”. Esperemos só que Courtney Love e a sua equipa de advogados não saibam combinar o Google e um qualquer tradutor on-line de português-inglês, ou Dennis Driscoll arrisca-se a ver-se obrigado a voltar a viver na ostra onde nasceu. Ou, na melhor das hipóteses, recolher-se ao retiro vampírico de quem habita entre as tábuas de um caixão. O buraco que Dennis Driscoll cavou para ele próprio é, de facto, um lugar aprumado onde vale a pena viver abrigado.
Miguel ArsénioNo fundo, a mensagem que Dennis Driscoll tenta veicular através de My Grave Is Kept Clean é a de que crê que a magia e desarmante transparência deste seu conjunto de canções podia eventualmente conquistar mais pessoas se o seu nome estivesse já gravado numa campa – até porque, afinal, a morte prematura de alguém fomenta as mais consensuais aclamações (sem haver nada de errado nisso). Contudo, é radicalmente cândida a exploração do conceito fúnebre por parte do seu artificie, cujo ímpeto terá levado a que aproveitasse para o título do seu álbum parte de “See That My Grave Is Kept Clean”, tema original de Blind Lemon Jefferson celebrizado pela cover de Bob Dylan. E será apenas necessário ler duas porções do diário online do próprio para concluir que a pretensão não consta da lista de defeitos do filho pródigo de Illwaco, Washington – sendo, além disso, evidente que amealhar fortunas não é ambição de quem se limitou a lançar o disco em formato MP3 e por conta própria.
Convenientemente, My Grave Is Kept Clean antes prefere revelar-se como conjunto de canções emitidas a partir de um “além” incerto onde melodias e harmonias ora açucaradas ora assustadoras (tanto quanto um filme para maiores de 16) são premissas fundamentais de uma existência irreversivelmente alienada. Driscoll sustém esse jogo arriscando-se, ao mesmo tempo, a formar antítese do disco sério e sisudo que este poderia ser nas mãos de outro individuo, e a aproximar-se – acidentalmente, presume-se – do que pode ser uma mais estável e infantil versão miniatura da ópera apropriada por Tom Waits em The Black Rider.
Toda esta fantasia fantasmagórica teria os seus alicerces ameaçados caso não assentasse sobre um diamante pop intitulado “Red Horse”, acerca do qual tudo já havia sido dito por aqui, quando o Bodyspace faz o seu balanço das melhores canções pertences ao ano de 2007. Se é verdade que nenhuma das restantes treze (catorze, se for contabilizado o reprise assombrado de “Lovely Weekend”) canções se encontram à altura de ombrear com “Red Horse” na sua capacidade de perdurar no tempo, não deixa der ser igualmente válido sublinhar que toda a dimensão de My Grave Is Kept Clean atesta Dennis Driscoll como malabarista polivalente que não teme ter mais que quatro ou cinco esferas a circular livremente entre as mãos e o ar – serve isso para esclarecer que, dentro da sua simplicidade, uma composição típica do príncipe esquecido da K Records chega a somar um órgão pachorrento, a lírica lúdica do próprio, guitarra discreta e loops trabalhados à imagem do cinema série-b. Todos esses elementos equivalem a operários que trabalham em equipa para vencer no campeonato das “pequenas grandes canções”. E a verdade é que, quando não atingem esse objectivo, ficam sempre perto do topo.
A bravura dos tais elementos honra um Dennis Driscoll que, conforme já adiantara em entrevista a esta casa, atreveu-se a incluir a voz de Kurt Cobain a proferir shut up na dormente e deslumbrante marcha nupcial que é “Hades Nightgown”. Esperemos só que Courtney Love e a sua equipa de advogados não saibam combinar o Google e um qualquer tradutor on-line de português-inglês, ou Dennis Driscoll arrisca-se a ver-se obrigado a voltar a viver na ostra onde nasceu. Ou, na melhor das hipóteses, recolher-se ao retiro vampírico de quem habita entre as tábuas de um caixão. O buraco que Dennis Driscoll cavou para ele próprio é, de facto, um lugar aprumado onde vale a pena viver abrigado.
migarsenio@yahoo.com
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