DISCOS
The Heliocentrics
Out There
· 29 Jan 2008 · 08:00 ·
The Heliocentrics
Out There
2007
Stones Throw / Flur


Sítios oficiais:
- The Heliocentrics
- Stones Throw
- Flur
The Heliocentrics
Out There
2007
Stones Throw / Flur


Sítios oficiais:
- The Heliocentrics
- Stones Throw
- Flur
Funk psicadélico, espacial e aventureiro: é a estreia auspiciosa do colectivo britânico liderado Malcolm Catto.
Servirá um disco para colocar ordem num universo sequioso de harmonia e provar que haverá melhor receita que o excesso para desencadear mais valia estética? Poder-se-ia desconfiar da falta de moderação deste octeto britânico e, em simultâneo, elogiar-se, com olhar atravessado, a aventura psicadélica encalhada algures entre a premunição de Sun-Ra e os desejos transcendentes de James Brown. Mas se o fizéssemos estaríamos a condenar desnecessariamente ao fracasso uma obra que nasceu para ser lentamente assimilada em várias órbitas. Só uma aproximação sem preconceitos – e sem revivalismos desnecessários – poderá transformar este monumento num genuíno manifesto funk modernista – ou num renovado discurso hip-hop.

Das muitas certezas a extrair de Out There será a síntese modelar e caleidoscópica que o projecto de Malcolm Catto imprime na matriz funk. Entre a urgência da renovação e o respeito pelo cânon eloquentemente estabelecido pelos clássicos, nasce um singelo, mas convicto, suspiro espiritual que reorganiza metodicamente a matéria essencial e a converge numa coerente massa sonora que não teme a inovação contemporânea. A feliz coincidência no cerne do processo – ou talvez não – será a requalificação da alma do velho hip-hop e a expurgação dos virulentos elementos que o contaminam actualmente. Não se estranhará então o interesse da Stones Throw no resultado final deste honesto trabalho de grupo.

Haverá sempre espaço para especulações, discussões de origem e até fortes indícios para não acreditar em tão singular acaso com o hip-hop; Out There deixaria de fazer sentido se se explicasse pormenorizadamente toda minudência de ingredientes que o compõem. E sem tornar pesaroso o prazer de ouvir e pensar a música, valerá a pena apontar como referências elementares o já citado Sun-Ra, e toda a sua obsessão espiritual pelo criador da vastidão universal – que o seu jazz transcendente e obliquo reverenciava –, o génio do ritmo ancestral de Fela Kuti, a destreza na irregularidade de tempos de James Brown ou o entendimento singular da matriz afro-americana do Yesterdays New Quintet, para se estar a um passo de entender a necessidade de interiorizar uma obra que procura no além a fonte da juventude eterna, na estratosfera a visão idílica da Terra e nos labirintos dos continentes da imaginação a narrativa poética capaz de inspirar o amanhã. Talvez haja excessos que nunca estarão a mais na ausência de uma harmonia equilibrada. Essencial.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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