O farto banquete de samples verificado em grande parte dos lançamentos da Stones Throw faz crer que, entre o domínio dos criadores vinculados a essa fortaleza de hip-hop sem fronteiras, pode estar salvaguardada uma sabedoria enciclopédica que engloba significante quinhão de toda a música existente. Apesar de facilmente constatável, permanece ainda por autenticar um dos princípios ocultos da label que tem em J Dilla (RIP) e Madlib alguns dos seus mais distintos símbolos: não escapará ao nosso safari melómano qualquer groove, break ou som memorável digno de servir a um depurado contexto hip-hop, independentemente da distância que nos separe desses, quer eles se escondam em colecções renegadas ou em feiras assombradas por uma taxa de crime elevado.

Sem qualquer pudor, Dr. No’s Oxperiment - terceira investida a cargo de Oh No, irmão de Madlib - honra essa linhagem de arquivistas exaustivos enquanto disco que contabiliza os proveitos do tráfico de segredos pilhados aos confins mais enigmáticos da música (generalizadamente reconhecida como) psicadélica oriunda da Turquia, Itália, Grécia e Libano. Em termos mais concretos, escutam-se, a um mesmo circulo de fogo, secções de cordas prontas a reanimar ventres em estado comatoso, guitarras (e variantes étnicas da mesma) com afinações desiguais, beats escaldantes como zinco exposto ao sol - enfim, todo um acervo de componentes ideais para dar forma a vigorosos e inebriantes loops que serviriam na perfeição à transição da black super hero music - conforme anunciada por Jay-Z – para uma espécie de Sinbad / Sandokan super hero music (sobre a qual poderiam assentar “mil e uma rimas�).

Fosse necessário encontrar paralelo para o disco entre a prata da casa, e dir-se-ia que a Oxperiment podia ser desvario a cargo de Rui Miguel Abreu e Mr. Mute da dupla Deubreka, caso estes tivessem vestido turbantes e tomado de assalto uma alucinada rádio talibã a emitir a partir de uma longínqua frequência AM. Há por aqui maná de sobra para todos os salteadores do hip-hop perdido.