DISCOS
Valgeir Sigurðsson
Ekvílibríum
· 27 Dez 2007 · 08:00 ·
Valgeir Sigurðsson
Ekvílibríum
2007
Bedroom Community / Flur


Sítios oficiais:
- Valgeir Sigurðsson
- Bedroom Community
- Flur
Valgeir Sigurðsson
Ekvílibríum
2007
Bedroom Community / Flur


Sítios oficiais:
- Valgeir Sigurðsson
- Bedroom Community
- Flur
Produtor de créditos firmados – incluindo vários acumulados ao lado de Björk – afirma-se positivamente em disco em nome próprio.
Independentemente da perspectiva adoptada para enumerar os laços criativos que unem triangularmente Björk, Bonnie “Prince” Billy e Valgeir Sigurðsson, é constatável que é cada vez menor o segredo em torno do beco situado na cidade de Reiquiavique, na Islândia, que conduz aos Greenhouse Studios – propriedade do último mencionado e tecto que tem albergado fatia enorme da mais surpreendente produção musical registada nesse país insular localizado no noroeste da Europa. Através de referências encadeadas, anulem-se então os graus de separação entre os vértices envolvidos, para que mais nitidamente se entenda que tipo de magia ocorre na tal Greenhouse: foi por lá que Valgeir Sigurðsson satisfez tecnicamente a vontade intimista de Björk na concepção de Vespertine, disco esse que contava com uma “Harm of Will”, escrita a meias com Harmony Korine, acerca de Will Holdham, ou Bonnie “Prince” Billy, que emprestou voz a uma “Gratitude” por sua vez incluída em Drawing Restraint 9, objecto dependente do contexto artístico para o qual o talhou a mais sonante embaixadora da Islândia, tendo em mente a expressão plástica do parceiro Matthew Barney e o atento acompanhamento do produtor visado por estas linhas.

A pescadinha morde multiplamente o rabo e Ekvílibríum, estreia de Valgeir Sigurðsson em nome próprio, apresenta-se como súmula proporcional do caule obtido no inventivo convívio com Björk – no período que teve Selmasongs e Drawing Restraint 9 como balizas - e do vistoso luxo a que se permite alguém que possa ser arquitecto do acompanhamento musical para duas faixas – “Evolution of Waters” e “Kin” - co-escritas por Bonnie “Prince” Billy (que já havia confiado a produção de The Letting Go ao senhorio dos Greenhouse Studios).

Enumerar tão honrosas parcerias ao historial de Valgeir Sigurðsson serve à antecipação descritiva de um Ekvílibríum que preenche as credenciais a que se compromete no título: é diário pessoal onde se combinam referências pessoais e o distinto cunho da identidade musical islandesa, produto de uma configuração inclusiva que alcança, com equivalente sucesso, o orgânico charme glaciar daquelas paragens e um não menos frio glitch que geralmente é rendilhado digital sobre as vozes participantes (pertences também a Dawn McCarthy dos Faun Fables e J. Walker). Quem cortou relações com Björk por altura de Medulla, ou durante a saturação de lançamentos que lhe antecedeu, pode, pelo menos, reconciliar-se com o esteta que a acompanhou até aí. Pode esse alguém redescobrir os prazeres da caixinha de música que era “Frosti” de Vespertine numa “Focal Point” que soa a peça homóloga, embora ampliada e guarnecida nas suas feições.

Além disso, Valgeir Sigurðsson sabe como transformar o aspecto lunar de algumas paisagens escandinavas nos grandiosos arranjos que servem às vozes de Bonnie “Prince” Billy e Dawn McCarthy nas fabulosas “Evolution of Waters” e “Winter Sleep”, respectivamente. De um modo mais contentivo do que o conhecido a Homogenic(disco de Björk que o terá influenciado apenas unilateralmente), o produtor islandês explora essa faceta sinfónica sem nunca deixar que a ambição transforme em aberração tudo aquilo que pertence tão harmonioso como se tivesse sido cultivado numa comunidade de quarto (não é ocasional o nome da label que o próprio Valgeir Sigurðsson gere e em que lança o álbum da sua autoria).

No lugar do disco que congrega os esforços de um produtor em boa forma e célebres vocalistas convidados, sem eclipses de protagonismo de parte a parte, Ekvílibríum andará muito perto do que foi há um ano o álbum homónimo de Ensemble, que contava com as participações de Cat Power e Lou Barlow como agitadores da emotividade que carregava a sua electrónica de despertares. A comparação ganha um sublinhado apontamento de rodapé se recordarmos que também Ensemble (tcp Olivier Hardy) se envolveu com Björk na escrita conjunta de “Desired Constellation”, pertencente a Medulla. Parece que, apesar de em Volta denunciar a intrusão de quem invadiu a Terra, Björk mantém-se aberta a facultar pós-graduação em refinamento de potencial aos produtores privilegiados com a sua mera presença. O equilíbrio palpável à fornada de discos concebidos nos Greenhouse Studios é o mesmo que leva alguém a crer que o toque de Midas é mais contagioso na Islândia quando o surto parte desse maravilhoso ser conhecido por Björk. Ekvílibríum toma para si esse dom e afoita-se a distribui-lo à sua vontade. Dá-se bem com isso.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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