DISCOS
The New Pornographers
Challengers
· 15 Dez 2007 · 08:00 ·
The New Pornographers
Challengers
2007
Matador / Popstock!


Sítios oficiais:
- The New Pornographers
- Matador
- Popstock!
The New Pornographers
Challengers
2007
Matador / Popstock!


Sítios oficiais:
- The New Pornographers
- Matador
- Popstock!
A.C. Newman desafia os limites do seu próprio alcance pop em disco colectivo que deixa bem salientes as capacidades das suas individualidades.
Um conselho à entidade que atribui a classificação aos DVDs que acompanham os discos em formato luxuoso: ainda vai a tempo de ser interdito a menores de 18 anos e designado como pornográfico o conteúdo do DVD anexo à reedição de Pet Sounds dos Beach Boys que comemora o seu quadragésimo aniversário com o selo da Capitol. Nem tanto por ser um disco cuja capa original parece registar os preliminares mornos do que pode ter sido uma orgia bestialista, mas porque existem realmente pornógrafos canadianos que têm esse disco como mais que provável predilecto. Essa acusação recai, pois claro, sobre os New Pornographers, instruída turma formada pelos suspeitos do costume conhecidos ao indie canadiano – gente que, pelo que dá a conhecer o quarto longa-duração Challengers, mantém bem acesa a mesma obsessão pela pop dourada que neles despoleta a vontade de produzir canções eficientemente simples que possam aspirar à eternidade pelo lustroso requinte das suas melodias, arranjos e harmonias. Enfim, os New Pornographers movem-se pelo mais primário dos desejos que afecta quem tem Pet Sounds e os Beach Boys sobre um pedestal de inspiração.

Sabe-se também que é recorrente (e irritante) associar o génio de Brian Wilson – o mais influente dos Beach Boys - a quem actualmente produza pop resistente, da mesma forma que nem sempre é bem aceite apelidar de super-colectivo um grupo de amigos talentosos com uma vocação comum. A Challengers sobram motivos para que a segunda noção empalideça por imposição do actual posicionamento dos diversos New Pornographers: actuando como principal compositor, A.C. Newman – autor de Slow Wonder - ocupa agora o leme do barco que melhor flutua com o contributo instrumental dos restantes sete membros (e outros 9 externos), Dan(ny) Bejar – infalível songwriter enquanto Destroyer – quebra a homogeneidade assumindo a escrita de três temas que só podiam ser seus (repare-se no jogo de desencontros, entre a nasalidade e um coro suavizado, que tão impecavelmente destaca a presença de “Myriad Harbour”) e – para completar o ramalhete - a graciosa Neko Case mantém-se por perto porque a sua fotogenia é bem útil às fotografias promocionais e a sua voz um acrescento-chave sem o qual não resultariam tão plenamente algumas harmonias. Os restante membros são igualmente importantes, mas seria demasiado exaustivo mencionar o desempenho de cada um (frise-se, ainda assim, a polivalência instrumental de John Collins e as garantias que oferece às mais “cheias” faixas de Challengers).

Até porque um disco económico merece um orçamento limitado de palavras. A atenção que acumulou sobre si o Canadá, ao exibir ao mundo a sua capacidade de produzir pop de porte monumental, alimenta, desta feita, a luz do holofote que recai sobre A.C. Newman – ele que, com o entusiasmo da primeira investida, invoca parcialmente os dotes dos sagrados compositores que idolatra (Burt Bacharach, Brian Wilson, etc.) para reconstruir açucarados sonhos ora electrizados por uma pop rejuvenescida, ora serenados por um enquadramento entre paredes onde o compositor adivinha o lindo dia lá fora tornando mais esplêndidas as porções sinfónicas que escreve cá dentro. Challengers supera desafios em ambos os quadrantes. Não se admirem os menores de 18 anos mais ávidos de pop solarenga se um dia destes forem impedidos de adquirir Challengers numa qualquer loja de discos.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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