Ao optar por assinar um disco com o seu próprio nome isolado da (muito minimalista) Magic Orchestra que a acompanhava até aqui (em dois álbuns prévios), Susanna Wallumrød oferece o pretexto ideal para que se reavalie a relação com a música que produz – uma espécie de canção absolutamente imaculada, que sofre brando degelo através do calor que produzem, por aproximação mútua, uma voz perdida em candura e todo um conjunto de instrumentos intimamente captados em câmara hermética. Embora procure fazer soprar ventos de mudança, Sonata Mix Dwarf Cosmos não abandona o terreno morno da fórmula de sempre e nem sequer coloca de parte o mesmo rol de instrumentistas convocados para preencher a imensa fatia de silêncio que sobra, mesmo após o acrescento, a conta-gotas, da voz, piano e subtilíssima guitarra a cargo de Susanna.

Fatal é constatar que já se esgotou o tempo de aquecimento que espera por algo de sonante (mesmo que em registo frágil) e parece um pouco forçada a mudança de nome, activada quase em jeito de Agora, sim, é a sério.. O principal problema talvez seja mesmo esse: Sonata Mix Dwarf Cosmos leva a sua solenidade demasiado a sério – procura oferecer as suas canções como casulos habitáveis, fracassando depois na decoração que devia confortar os residentes e cativar a estadia prolongada. Na verdade, o fracasso sucedesse pela metade e mais perceptivelmente quando Susanna falha o ângulo mais tristonho da melodia (que, mesmo assim, atinge na mouche em “Intruder” e “Hangout”). Meio-fracasso, repita-se, porque a produção conduzida por Deathprod (sinónimo de discos imensos) enaltece de tal modo a fisicalidade que sobra da interacção entre instrumentos e quem os manobra, que, em certas ocasiões, os ruídos filtrados aos movimentos formam um terceiro elemento inesperado na implosão morosa que é Sonata Mix Dwarf Cosmos.

O pecado capital do pretenso debute acaba por ser cometido por uma Susanna sem muito para dar em termos de polpa de canção. As sensações desérticas cultivadas pelo próprio disco encontram involuntário paralelo na quase generalizada falta de ideias que dificulta o cumprimento desta travessia sem bocejos. A reavaliação implicada pela mudança de nome não deixará de ter em conta o relevo curioso que tinha o anterior Melody Mountain na sua peregrinação por covers de AC/DC e Joy Division. A solo e à margem do fetiche associado às covers, o lacónico nome de Susanna traduz-se em resultados lacónicos.