A cada novo capítulo da sua já extensa discografia, Taylor Deupree aproxima-se mais de tornar plausível a ideia de que um disco seu representa um pequeno passo para a resolução do puzzle global, mas um enorme avanço na apuração e polivalência de uma estética que lhe é imediatamente reconhecível (após a devida familiarização). Falamos, afinal, de alguém que, além de conceber as fundações de uma das mais desafiantes labels de Brooklyn (a 12k), conseguiu definir uma linearidade narrativa que se lê transversalmente a discos que nunca romperam por completo com o aspecto formal e minimalismo que brotaram da génese da sua identidade e se descobrem, desde aí, como recompensa a autênticas bênçãos como o optimista e pré-natal January ou retiro coberto de neve que é o belíssimo Northern. Talvez na tentativa de fazer render uma temporada que procura lucidez às medidas de risco, Taylor Deupree aproveitou a sua recente digressão pela Austrália para lançar um mini-álbum a que bastam 19 minutos para provar que a acústica declarada também é conjugável com a palete habitual, que permanece sempre sujeita a inéditas aplicações por parte do patrão da 12k..

No disco que confirma o interesse da Room 40 em Taylor Deupree, entende-se por palete habitual os quase intangíveis drones de sintetizador que continuam a ser matéria de sonho e, desta vez, posicionados horizontalmente de modo a puderem ser percorridos - como uma linha férrea – pela guitarra muito Cliff Martinez que torna áridos os primeiros dos três exercícios incluídos e pelos graves sigilosos que só muito discretamente se manifestam ao terceiro movimento (que, de modo paradoxal à sua contenção, revela o que de melhor tem Landing em termos de detalhe). Tudo levita como algodão a este mini-álbum que desvia as orações dos convertidos no sentido de que Taylor Deupree venha a dar continuidade ao estado de graça electro-acústico aqui revelado.

De certo modo, pode ser aproveitado ao filme francês O Ódio, que anteviu em vários anos o tumulto racial parisiense vivido recentemente, uma frase-chave que se adequa perfeitamente à lógica que revela Landing enquanto consequência directa de movimentos anteriores. Lançamentos anteriores como January, Every Still Day (feito a partir de material alheio) e Northern repetem em coro harmonioso:Até aqui tudo vai bem, até aqui tudo vai bem. Contudo, o que importa não é a queda, mas sim a aterragem. Taylor Deupree convence-nos repetidamente disso com a crença e dedicação praticamente milagrosa que deposita em cada disco presente.