DISCOS
Eric Copeland
Hermaphrodite
· 09 Nov 2007 · 08:00 ·
Eric Copeland
Hermaphrodite
2007
Paw-Tracks / Flur


Sítios oficiais:
- Paw-Tracks
- Flur
Eric Copeland
Hermaphrodite
2007
Paw-Tracks / Flur


Sítios oficiais:
- Paw-Tracks
- Flur
Os mais recomendáveis ensinamentos Black Dice conhecem renovada e mais excitante aplicação por parte do mais inspirado dos seus terços.
Ao abrigo da reavaliação que merece por esta altura, com o lançamento do esforço conjunto dos Black Dice denominado Load Blown, Hermaphrodite arrisca-se a acumular depressa as insígnias que destaquem a emancipação de quem decidiu, por sua conta própria, expandir as ideias acumuladas durante os anos em família. Sem representar um acto rebelde, Hermaphrodite revela que Eric Copeland, um terço dos Black Dice e metade dos Terrestrial Tones, é bem capaz de, em auto-suficiência (sugerida pelo título deste debute), colocar em movimento a mesma roldana de padrões gradualmente afectados que serve muitas vezes de âmbito laboral aos autores de Creature Comforts. Por aqui, Eric Copeland exercita pequenos transes que giram sobre si mesmos enquanto arrastam para o seu centro centrifugador tudo o que um papa-formigas possa ter conseguido aspirar a uma greta na parede que abriga uma infinita primordialidade orgânica.

Hermaphrodite rege-se muito a partir da circularidade que sugere um título como Voando Sobre um Ninho de Cucos - isto se encararmos positivamente que Copeland possa ser a ave que rapina uma qualquer manifestação espontaneamente tribal para depois a perfurar e preencher o seu interior com um groove adulterado mais impulsivo que ponderado. O real triunfo de Eric Copeland passa, em partes iguais, pela falta de rigor seguido na selecção de samples e pela frescura que isso oferece às surpresas sucessivas de um disco que propõe uma visão caleidoscópica sobre o próprio imaginário referencial do seu criador (que às vezes parece perdido num reino de Oz lavado em lixívia e, noutras, cativado pelos efeitos do ecstasy nos protagonistas do filme Os Deuses Devem Estar Loucos).

“Scraps”, por exemplo, enquadra-se nessa linhagem de diversões em parque temático personalizado e apresenta-se como uma montanha russa perigosamente desencaixada dos seus carris rítmicos africanos, extraídos a música para exorcizar ursos de peluche psicóticos. Nesse, tal como em outros momentos, é como se alguém tivesse encharcado de absinto cada elemento da orquestra Geinoh Yamashirogumi - entidade responsável pela banda-sonora de Akira - e depois tivesse deixado que cada um desses se perdesse na sua própria trip, desde que a documentasse num receptor digital pouco fiável.

A verdade é que a tabela de marés Eric Copeland ainda não se encontra completamente mapeada e estabilizada, e é por aí que Hermaphrodite derruba por K.O técnico Load Blown, atribuído à entidade-base Black Dice, no braço de ferro onde medem forças o imprevisível e a estranheza magnética. Onde Load Blown se contrai por implosão estética, Hermaphrodite resplandece por forma de pistas soltas apontadas numa direcção que apetece vir ainda a descobrir mais num futuro próximo. Rei morto, rei posto.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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