DISCOS
Colleen
Les Ondes Silencieuses
· 22 Out 2007 · 08:00 ·
Colleen
Les Ondes Silencieuses
2007
Leaf / Flur


Sítios oficiais:
- Colleen
- Leaf
- Flur
Colleen
Les Ondes Silencieuses
2007
Leaf / Flur


Sítios oficiais:
- Colleen
- Leaf
- Flur
Romantismo contido e a procura da verdade da música.
Muito provavelmente Les Ondes Silencieuses é o melhor álbum da compositora/instrumentista parisiense Colleen mas, em simultâneo, aquele que impressão menos profunda me deixou. Embora esta aparente contradição não possa ser facilmente resolvida, ela pode ser explicada de uma forma muito simples: em termos de uma apreciação musical objectiva - escolha de instrumentos, complexidade dos temas, qualidade da composição - este é o seu melhor disco; na perspectiva subjectiva, considerando todos os sentimentos pessoais envolvidos no confronto emocional com a música, as sensações experimentadas foram claramente menos intensas.

Isto não quer dizer que a magia ande arredada de Les Ondes Silencieuses, muito pelo contrário. Colleen evoca nos sons que cuidadosamente escolhe para as suas composições, ondas luminosas de melodia que sobem tranquilamente na atmosfera acústica do espaço que nos rodeia. Um espaço quase mítico, sempre sereno, habitado por transmissões imaginárias e canções encantadas, a um passo de nos tornar seres apenas sensíveis às carícias invisíveis do som. Em "Sun Against My Eyes", existe uma harmonia que vai florescendo em breves espirais até se revelar por completo num novo corpo panorâmico de luz, ao passo que no tema "Echoes And Choral" a ressonância prolongada dos tons de cristal levita na atmosfera até se dissipar por completo, como notas musicais coloridas que se apagam depois de serem consumidas pelos nossos ouvidos. "Sea Of Tranquility" é esse oceano cintilante de contemplação que convida ao recolhimento e à meditação sobre o corpo interior.

Ao longo da sua carreira discográfica, Colleen tem-se progressivamente desembaraçado de quaisquer traços de artificialismo, por assim dizer, na sua música. À acumulação selectiva de samples do primeiro disco e às diversas manipulações de caixas de música e afins do segundo, Cécile Schott prefere agora compor e tocar verdadeiros instrumentos musicais como a viola da gamba, um instrumento caído em desuso desde o século XIX com o aparecimento do violoncelo, a guitarra clássica ou até mesmo o clarinete. A nova opção estética é evidentemente a forma que Cécile escolheu para procurar a sua própria verdade da música. A sua obra passou assim a exigir outro grau de esforço e capacidade não só como compositora mas principalmente enquanto executante, adquirindo maior autenticidade, com a depuração de arranjos que por vezes nos remetem para o domínio da música antiga. É ao mesmo tempo uma música mais humana, revelada também na grandeza dos pequenos pormenores: um suspiro ofegante que se solta numa passagem ou o impacto físico do dedilhado nas cordas do instrumento musical.

O romantismo de Les Ondes Silencieuses pode ser mais contido, como aludi no início, mas continua a revelar a belíssima obra de alguém com um olhar poético sobre o mundo que nos rodeia.
Jorge Mantas
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