DISCOS
PRE
Epic Fits
· 26 Set 2007 · 08:00 ·
PRE
Epic Fits
2007
Skin Graft


Sítios oficiais:
- Skin Graft
PRE
Epic Fits
2007
Skin Graft


Sítios oficiais:
- Skin Graft
De um gélido armazém de pizzas para o mundo, a mais conturbada e ruidosa Londres agita espasmos mil em duração recorde.
Um freak londrino que se queira fazer notar entre a multidão é obrigado a esmerar-se além dos piercings faciais e caracteres chineses tatuados, que, no seu desuso corriqueiro, ainda vão atraindo o provincianismo de alguns olhares alheios em outras capitais europeias menos povoadas. Um puto que se queira destacar na turba que inunda a feira de Camden Town aos sábados tem de trajar um fato completo anti-radiação atómica para evitar a banalidade. Embora raro, esse é um caso verificável. Suspeita-se, ainda assim, que tão bizarros modelos se encontrem inconscientes do valor que pode ter um fato anti-radiação na protecção que esse oferece face aos também londrinos PRE, colectivo combustivo que não se poupa a esforços no sentido de evitar o aprisionamento no mesmo saco do ruidoso rock espasmódico que já contém em si tantas vítimas da redundância.

Além de formalmente representar o primeiro longo-duração atribuído aos PRE, Epic Fits - gravado num armazém de pizzas - é mais um daqueles presentes envenenados a que nos habituou a alucinada e imprevisível Skin Graft. À medida que concede terreno útil à violência da esgrima entre baixos, Epic Fits vocifera vendavais através de riffs de guitarra suspeitos de constarem de uma lista de terroristas cuja libertação foi reivindicada à no wave nova-iorquina. Parece-se o seu fedor com o que exala a doninha de Chernobyl que escapou da canalização onde correm as impurezas filtradas à discografia mais nervosa dos Melt Banana. Sim, a comparação é inevitável, quando ambas as vocalistas são asiáticas e cantam como se em tom de ameaça constante para quaisquer dedos que se atrevam a cruzar o território entre os dentes de cima e os de baixo. Akiko Matsuura, a vocalista que milita nos PRE, estrilha tão estridentemente quando lhe é concedido espaço, que se torna seguro apostar que não foi muito pacífica a vida caseira das famílias que eram vizinhas à casa onde viveu a sua infância.

A adaptação ao turbilhão Epic Fits serve como recompensa a ideia de que a sua instabilidade rítmica rende momentos de pressão sanguínea bem mais extremados do que à partida julgaria o horror inicial – esse que é provocado pelos assaltos de rock que se desenvolve como a combinação de golpes do mais astuto pugilista. Por um número de vezes superior às que são óbvias, Fits altera subitamente a sua direcção e faz estalar momentos febrilmente livres como só conseguem os Flying Luttenbachers, e outros que viciam o cérebro assim que passam a ser linguagem tribal interpretável (como é o caso do ritual macabro de “Scenes from a 1963 Los Angeles Love-in” que, psicologicamente, parece muito mais longo do que realmente é). Apesar do isco que proporciona a imparável voz corrosiva de Akiko Matsuura, a maior vitória deste primeiro disco dos PRE reside, quase secretamente, no modo subversivo como compacta os malabarismos rock suficientes a três discos em apenas vinte e seis minutos que servem de duração a um. Sem se saber se a vaca tossiu ou não, a verdade é que o épico encaixou-se bem aqui.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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