DISCOS
Handsome Furs
Plague Park
· 06 Set 2007 · 08:00 ·
Handsome Furs
Plague Park
2007
Sub Pop / Popstock


Sítios oficiais:
- Handsome Furs
- Sub Pop
- Popstock
Handsome Furs
Plague Park
2007
Sub Pop / Popstock


Sítios oficiais:
- Handsome Furs
- Sub Pop
- Popstock
Capítulo avançado da breve história do rock nasal explana “De como de uma parada de lobos se fez indie canadiano a rodos”
Breve história do rock nasal

Capítulo CLXIII – De como de uma parada de lobos se fez indie canadiano a rodos

Um qualquer químico contamina o leite com que a Loba de Montreal amamenta os seus filhos Spencer Krug e Dan Boeckner, duques habitualmente inspirados do Canadá que, conforme provou o terramoto Arcade Fire, revelou dispor de argumentos para rivalizar com o que de melhor se faz em termos de rock independente no país vizinho. Coloca-se a questão ao tal processo mamífero porque, quando não se misturam empenhadamente nos Wolf Parade, Spencer Krug e Dan Boeckner entregam-se a visões musicais paralelas a essa banda-matriz, mas nem por isso tão distantes entre si. Depois de, no ano passado, ter sido Krug a edificar um vistoso monumento de pop alienada e ambiciosa com Shut Up I am Dreaming dos Sunset Rubdown, Boeckner prova, desta feita, que também ele sabe destilar à sua maneira o indie romântico e de nariz empinado que exporta o Canadá. Fá-lo à margem da tradição e confiando a formação de situações dramáticas a guitarras ampliadas em distorção e aos teclados e drum machines que gere com alguma feminilidade e toque gracioso a esposa de Boeckner, Alexei Perry.

Mas voltemos à equação que alia Spencer Krug ao seu congénere aqui entregue ao matrimonial duo Handsome Furs. A ambos reconhecem-se de imediatos traços comuns e características muito típicas da escola canadiana: a nasalidade da voz (lá está!) e o seu permanente vacilar que sugere desencanto e embriaguez, a demarcada vocação para a grandiosidade – obtida a meios de recurso - que podia valer a ambos um lugar confortável nos estúdios Disney, o gosto pelo contraste entre passagens mais mundanas e outras quase impossíveis de serem compactadas em disco (“Dumb Animals” é maior que a vida no seu choque frontal entre guitarras e uma carga rítmica anormalmente física quando comparada com o restante disco). É tão cruel quanto inevitável comparar em grelha estes dois ramos da genealogia Wolf Parade, mas adiante-se antecipadamente que a banda de Krug se encontra uns pontos à frente sobre este primeiro disco de Handsome Furs que não deixa de ter os seus pontos fortes.

De entre esses pontos fortes, existe um que, enganosamente, se tomaria como frágil ao ponto de ser o calcanhar de Aquiles de Plague Park: a sua falta de vontade em suavizar-se a si mesmo com o alisar melódico de arestas assumidamente lo-fi ou com uma produção que recalcasse os seus traços mais roufenhos e poeirentos, próprios de um conto esquecido (sendo que inspirou à génese do próprio disco a aura fantástica em torno de um parque de Helsínquia onde se encontram enterrados as vitimas de uma praga devastadora). Toda essa resistência face ao que o tornaria num objecto mais atraente é palpável à vida própria que assume uma drum machine que tantas vezes se manifesta como se estivesse esgotada de energias ou livre de orientação autoritária. Como ela, Dan Boeckner crê que basta aos Handsome Furs o charme libertino da essência e o zelo apenas suficiente no que respeita à formação de canções. As reacções a isso gravitam entre uma distância irremediável e pontuais certificações de que a casta Wolf Parade merece acompanhamento atento.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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