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Religious Knives
Remains
· 06 Ago 2007 · 08:00 ·
Religious Knives
Remains
2007
No Fun


Sítios oficiais:
- No Fun
Religious Knives
Remains
2007
No Fun


Sítios oficiais:
- No Fun
Trio norte-americano desenvolve falsos rituais em devoção ao estado líquido - com belíssimos resultados.
Com os Double Leopards num estado de hibernação, pelo menos no que diz respeito a edições desde 2006 (Out Of One, Through One And To One), tem cabido aos seus elementos aproveitarem o hiato para se multiplicarem numa miríade de projectos, com particular visibilidade (nem que seja pela proficuidade) para Marcia Bassett (Zaimph, GHQ ou os incrivelmente activos Hototogisu). Este é o caso destes Religious Knives, que contam nas suas fileiras com dois Double Leopards (Mike Bernstein e Maya Miller) acompanhados por Nate Nelson dos Mouthus. Remains é o primeiro longa-duração deste trio depois de dois 12" editados pela Heavy Tapes (de Maya e Mike), e é, como seria de prever pelo pedigree dos músicos envolvidos, bastante recomendável.

Tal como no caso dos Double Leopards, existe nos Religious Knives um espiritualismo próximo de algum krautrock mais obscuro e expansivo, mas enquanto os primeiros são extremamente enfáticos num ocultismo muito pouco terreno, nos últimos existe um lado marcadamente mais humano. A entrada com "Bind Them" submerge-nos na sua cadência devedora do dub e sintetizadores espectrais aos quais se junta uma voz afogada em reverb (efeito esse constante ao longo do álbum) que acaba por se aproximar de uns Excepter (também eles dados a flirts com o dub e o krautrock) menos alienados/alienígenas. A toada ritualista, reminiscente de uns Ash-ra Tempel do seu primeiro álbum mantém-se, adquirindo contornos mais obscuros no segundo tema, "Electricity and air", alimentando-se da tensão implosiva até ao seu final, para nos mais curtos "Blackbird" e "Wax and flesh" dar lugar a ambientes que se por um lado se mostram mais contemplativos, por outros não deixam de ser invadidos por uma certa perturbação tão característica de projectos desta natureza.

O final reserva-nos os 13 minutos de "The Train", longo arrasto de sintetizadores fragilizados e pequenos apontamentos percutivos a mostrarem que o espaço sideral pode afinal ser subaquático e que a contenção, quando usada com uma mestria apenas acessível a alguns, pode trazer-nos resultados brilhantes. Mais uma entrada fantástica no catálogo da No Fun, que já este ano nos presenteou com Blood lightning 2007 de Burning Star Core e Nobody’s ugly de Consumer Electronics, e que caminha a passos largos para se afirmar numa das editoras mais essenciais deste século.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
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