DISCOS
Bruce Springsteen
We Shall Overcome: The Seeger Sessions
· 24 Jul 2007 · 08:00 ·
Bruce Springsteen
We Shall Overcome: The Seeger Sessions
2006
Columbia


Sítios oficiais:
- Bruce Springsteen
- Columbia
Bruce Springsteen
We Shall Overcome: The Seeger Sessions
2006
Columbia


Sítios oficiais:
- Bruce Springsteen
- Columbia
O recuperar das raízes musicais estadunidenses pela mão de um mestre em fase ascendente.
Bruce Springsteen não é propriamente um novato nestas andanças da folk. Inicialmente apresentado como o novo Bob Dylan, Springsteen gravaria vários álbuns nos quais cruzaria as raízes musicais estadunidenses com a pop mais mainstream, e revisitaria, num passado mais recente, lendas como Woody Guthrie e Pete Seeger, nas colectâneas Folkways: A Vision Shared – A Tribute to Woody Guthrie & Leadbelly (1988) e Where Have All the Flowers Gone: The Songs of Pete Seeger (1997). Esta última seria o ponto de partida para este We Shall Overcome: The Seeger Sessions. Nele, Springsteen celebra não só o génio musical de Seeger, como também a sua consciência política (Seeger era um convicto anti-McCarthy), que, uma vez traduzida para os dias de hoje, continua bastante actual e incómoda quando invocada por um convicto anti-Bush.

Apesar de não contar com a E Street Band, Springsteen não perde nenhuma da sua intensidade. We Shall Overcome conta com uma banda de treze peças que potencia as canções muito para além das suas características iniciais, ao mesmo tempo que lhes preserva o clima informal e identidade popular. É, pois, outro o ar que ali se respira: as canções desdobram-se em imagens que relembram outras vidas, outros tempos, e, no entanto, uma mesma história.

Springsteen discorre sobre a América, a sua América, apontando-lhe em cada palavra, nota ou entoação, as causas por detrás dum espírito a quem a resignação ainda não bateu à porta. Ao fazê-lo está a abrir os braços à riquíssima herança cultural deixada por milhares de homens e mulheres que, ao longo do tempo, forjaram uma nova cultura a partir das muitas que trouxeram de casa. A legitimidade, essa, vem-lhe da postura enquanto voz dos colarinhos azuis, aliada à forma como explorou no passado, texturas que, tal como em Seeger, eram paradoxais por se dividirem entre a força da mensagem e a fragilidade/simplicidade tímbrica – ouça-se o magistral Nebraska (1982), enquanto exemplo maior desse paradoxo.

We Shall Overcome é, por tudo isso, um documento importantíssimo para todos aqueles que desejem lançar-se, comodamente, à descoberta das raízes musicais daquele país. Também o será para todos os outros.
Samuel Pereira
an_american@paris.com
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