O deliberado descarnamento do rock não merecerá certamente um anúncio de página inteira numa revista de moda dirigida a homens mais assumidos na sua metro-sexualidade. Com subversiva perícia, os norte-americanos Pissed Jeans procuram convencer quem pega em Hope For Men de que o disco em mãos oferece como comodidade a dose de esperança necessária à superação do negrume que se adivinha aos tempos próximos. O límpido aspecto gráfico da imagem dos homens abraçados e a fórmula do seu título é em tudo semelhante ao de uma campanha clássica da Calvin Klein. Desengane-se, contudo, quem estiver na crença de que por aqui se vende mais uma ilusão de beleza a prazo.

Muito pelo contrário. Isto porque o que se esconde além do elegante invólucro não podia ser mais avesso à harmonia sugerida pela fotografia minimalista de dois homens de tronco nu abraçados de um jeito Benetton. Tanto mais quando um nome como Pissed Jeans semeia antecipadamente a suspeita de que um vapor ácido se sobreporá rapidamente ao odor do perfume. Hope For Men procura a todo o custo infligir a mais profunda ruptura possível entre o rock e os carris de ortodoxia que o tornam alinhadinho e previsível. Porém, para que seja bem sucedida tal sabotagem, os seus missionários devem já ter bem marcadas no corpo as chagas de outras batalhas de amadurecimento.

Acrescente-se, nesse sentido, que as evidências mais salientes convencem. O vocalista Matt Korvette grunhe e espuma pelos cantos da boca com o pânico de quem perdeu a noite entre pesadelos subconscientemente impostos pelos Big Black e Jesus Lizard (e o restante catálogo mais psicótico da Touch & Go). Ao serviço do seu vociferar, Matt conta com três estarolas irritadiços que não temem ser carne para canhão nas simulações de incêndio que são “Secret Admirer” (ateada por um riff que estala ossos) ou uma “A Bad Wind” que mais explosiva e energética se revela por anteceder ao atípico lamento ruinoso que se escuta a “Scrapbooking” (que arrisca certeiramente um piano discreto). A coesão maníaca obtida pelos Pissed Jeans atinge picos de intensidade que justificam o respeitável selo da Sub Pop.

Algum desequilíbrio – mais verificável na segunda metade do disco - chega a ameaçar a legitimidade da integração na Sub Pop, mas como derradeiro trunfo emerge uma decisiva "My Bed" a relembrar que Henry Rollins chegou a ser o mais perigoso ser à face da terra quando na mão carregava um microfone que escravizava como entendia a fúria do público ávido dos inflamáveis Black Flag. "My Bed" podia ser o paranóico hino "My War" se gravado na mais arrastada fase de Slip It In. Hope for Men atesta, a favor dos Pissed Jeans, que mais preparada parte preparada para a selva eléctrica qualquer banda que cumprir serviço militar obrigatório na ilha dos jocks and jazz (metáfora de rejeição) onde ganharam corpulência sónica os Hospitals. As visitas guiadas a tal resort infernal não constam dos catálogos que distribuem as agências de viagens, mas estão à distância de um disco como Hope for Men.