DISCOS
KTL
2
· 21 Jun 2007 · 08:00 ·
KTL
2
2007
Editions Mego / Vortex


Sítios oficiais:
- Editions Mego
KTL
2
2007
Editions Mego / Vortex


Sítios oficiais:
- Editions Mego
O terror digital de Pita e o pesar rastejante de Stephen O’Malley dos Sunn O))) conspiram a morte lenta do ruído num cosmos longínquo.
O comportamento insaciável que exibe o terrorista digital austríaco conhecido por Pita, na busca contínua de formas por corromper, é comparável ao da térmita que, ao devorar o seu alvo, mais não faz do que apontar a sua ambição a um outro de maior dimensão. O último Get Off, em nome de Pita, assinalava, de certa maneira, que chegara a hora de Peter Rehberg se evadir da identidade que lhe ocupara a maior fatia de tempo, com a escravização de ruído digital transformado em submundos paralelos ou em armadilhas glitch prontas a rasteirar os sentidos. Pode até ser que a claustrofobia que se sente aos cenários lodosos de Get Off fosse, ao mesmo tempo, claro indício de que residia ali um beco criativo sem saída.

A verdade é que, sem que ninguém o esperasse, Pita declarou nova etapa na sua vil carreira ao aliar-se a alguém capacitado de tão obtuso domínio sobre o som como Stephen O’Malley da dupla Sunn O))) - e isto sob o pretexto das peças produzidas em conjunto virem a servir a uma exibição teatral de nome Kindertotenlieder. Apesar disso, ambos os discos de KTL resultam em experiências independentes de contextualização. Tal foi a metamorfose da térmita vianense que até o seu próprio casulo editorial mudou de nome - de Mego para Editions Mego. Junta-se a vontade de matar o ruído por sufoco à de esfolá-lo por arrastamento e os universos colidem de facto no tratado cósmico que representa este 2.

A primeira noção a tomar de assalto quem escuta é a de que Pita e O’Malley eram gémeos desencontrados desde o dia em que nasceram nos confins do inferno: a capacidade de desenvolver sensações extremas de isolamento por parte do primeiro conhece a intensificação exacta nas lesões físicas proporcionadas pelo segundo, que as aponta a algures entre a vertigem e a náusea. Em termos de diferenças face ao já de si avassalador primeiro volume, 2 determina que se não fosse sua meta ser mais emotivo e grandioso, estaria condenado ao fracasso enquanto sequela apostada em fazer subir a parada.

O destaque “Theme” sobe – e muito – a parada no que respeita a colossais exercícios apontados a definir paragens galácticas inalcançáveis pela raça humana. Soa a aeronave que se aproxima com o ruminar de uma pulsação seca, à medida que surpreende o insuflar de um corpo inorgânico que tudo faz ao seu alcance para duplicar um infinito Jesu (divinal ramo musical da árvore Justin Broadrick). Quando só a cauda se avista, sobra uma abençoada questão amnésica que procura saber o que se terá passado na última meia hora de turbilhão. É faixa a constar do resumo de 2007.

Embora tenham até chegado a ser colaboradores, no projecto Fenn O’ Berg para o qual também contribuía Jim O’ Rourke, a verdade é que a revalidação dos KTL, com este seu segundo volume, não deixa de soar a vigoroso direito de resposta a Fennesz (que bem recentemente também angariou aliado de peso em Mike Patton). Não deixa sobretudo de declarar longa vida ao disco conceptual, que, neste como noutros casos, comporta quatro faixas nunca situadas abaixo da marca dos 10 minutos. Esses que representam a duração mínima que se exige ao dolente funeral espacial que vai sofrendo o ruído por estas paragens.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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