Os Part Chimp representam mais um daqueles nomes cuja qualidade e poder de fogo se mede pela fome que instaura entre cibernautas que não se contentam com dois generosos repastos de rock plenamente contaminado de fuzz e feedback, servidos sob a forma dos muito convincentes Chart Pimp e I Am Come, nos anos de 2004 e 2006 respectivamente. Perante a insatisfação que não chegou ser apaziguada pelos dois banquetes prestados no espaço de três anos, o ouvido carente de electricidade tóxica perde-se em busca das sobras que possam ter escapado ao prato e permanecido esquecidas nas partes inalcançáveis dos sofás e restante mobília. Cup é a confirmação de que a Monitor Records preserva bem presente essa noção de que existe ávida procura em relação à parcela da produção dos Part Chimp que, eventualmente, não chegou a ser incluída em álbum. Levou isso a que Cup aglomerasse numa só rodela os lados-b e outras faixas dispersas dos Part Chimp, mesmo quando essas não ultrapassam a dezena. Entende-se o gesto como recompensa dirigida à banda londrina pela lealdade que os manteve junto da Monitor ao não arriscar o trampolim que, a partir da label de Baltimore, projectou os Battles para uma órbita superior (Mirrored fez mossa) e que, inversamente, instrumentou uma transferência algo fracassada dos Early Man para a Matador.

Mas que condimento é esse que tanto faz salivar os famintos perfilados no primeiro parágrafo? A absoluta desinibição e carga rude que os Part Chimp pregam nos riffs quase absurdos que fazem dos seus discos corredores da morte infligida por ruído branco, ainda mais dolorosa por ser de difícil antevisão o momento do esmagamento. Pois se em I am Come o timing era exacto para a entrada do horrendo e fudidíssimo riff de “Hello Bastards”, em Cup a instabilidade ameaça a erupção vezes demasiadas para o coração humano (que só descansa mesmo na soturna e comedida jam “And Hell is Behind Me”, lado-b do também incluído single recente “New Cross”). Para que se entenda de que massa são feitos os Part Chimp, diminua-se a distância entre o ouvido e a convulsão sem paramento de “Bring Back the Sound”, que mais parece uma batalha campal provocada pela guitarra mais solta que se perde na barafunda de afinações rudes, para depois regressar à superfície mais definida (e purificada). Adiante, já que “Miser Chimp” revela alternativa mais frontal e grotesca para uma “Chimp Happy?” que será das mais emblemáticas faixas destes protegidos dos Mogwai. Tudo por aqui parece contrariar o lado mais elaborado da matemática conhecida à Monitor que é também aniquilada pelo fuzz que sufoca como a camada peluda que cobre o bicho na capa. Assim apetece ficar gradualmente surdo.

Cup tem razão de existir nem que seja para evitar que os dependentes desenvolvam o pouco digno hábito de escutar concertos que soam como se captados a um contentor de reciclados. Embora prematura, a compilação revela que esta será mais do que uma refeição baseada na junção de curiosos aperitivos pouco consistentes. Se há aptidão que se pode frisar firmemente aos Part Chimp é a entrega corporal despendida na obtenção dessa tal consistência, que transborda aos dois álbuns tal como a esta galáxia de apontamentos complementares. O equilíbrio é tanto que este podia bem ser o terceiro disco dos Chimp, sem que nenhum estômago se queixasse disso.