CANÇÕES
"California Boy"
Lil B
· 24 Set 2012 · 11:25 ·


Em 2008 e no seu ponto mais maníaco, o Lil Wayne faz algo tão desastroso quanto “Prom Queen” depois de alguns anos a espalhar genialidade e idiotice em igual medida em incontáveis mixtapes e álbuns. Não que isso lhe desse carta branca para atrocidades como Rebirth ou “She Will”, mas os devaneios de um louco são uma tradição secular que, não sendo desculpável pelo peso do legado precedente, tem o seu lugar nesse mosaico de desvios inusitados movidos pela força de um ego em constante fricção. Para já, e apesar de um trajecto curioso, o Lil B ainda não tem a cavalagem necessária para tais investidas. É uma persona intrigante, algo difusa nas suas premissas base – o que é mesmo o based world? - e com o devido rol de disparates a dar lugar a algum brilhantismo pontual. Depois do misticismo new age de Rain in England ou homenagens ao Elliott Smith, o auto-intitulado Based God deixa – suponho que por momentos – o rap para abraçar sem o mínimo de vergonha o seu lado indie em “California Boy”. Um exercício twee completamente imbecil, solarengo e cantarolável das piores formas possíveis, “California Boy” tem todo aquele ar de primeira tentativa de um qualquer miúdo que acabou de descobrir o Crooked Rain, Crooked Rain ou aquelas canções que ninguém se recorda do Frank Black. Mas consegue ser ainda do que isso, graças ao desconforto que é ouvir o Lil B a gaguejar linhas como ”I l-l-love you, yes I do”. Isto para não falar no quão deslocada soa qualquer tentativa de cantar. Sem especular muito sobre as razões que o levam a querer gravar um “disco de rock” - exercício de estilo? puro gozo? marketing? - “California Boy” só poderia ter algum valor enquanto piada. Com o problema acrescido de que, numa era de vídeos virais feitos ou não para esse efeito, esta canção falha redondamente em ser engraçada. Para isso, mais vale ler os comentários ao vídeo no Youtube ou, sei lá, a “Gangnam Style”.

Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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