© Teresa Ribeiro |
A Hyperdub e o dubstep acabam por marcar o ano 2006. O que começou por ser um movimento underground como tantos outros nascidos nos bairros suburbanos de Londres transformou-se num fenómeno envolto tanto em mistério como em curiosidade. Com a edição do enigmático e soturno Burial, a atenção e as expectativas em torno do dubstep cresceram exponencialmente – não se estranhe por isso que o álbum de estreia de Kode 9 fosse um dos discos mais aguardados do ano. É curioso que de um género como o dubstep, pelo qual poucos davam um chavo, surjam dois dos mais evidentes marcos de inventividade do ano. Dois estÃmulos negros – e por vezes feios – que nos inquietam a alma e simultaneamente proporcionam um raro prazer de descoberta. Dois futuros clássicos que para já terão de ser classificados como quase obra de arte.
Apesar do movimento já contar com quatro ou cinco anos, e ter nascido de um evidente cruzamento entre reminiscências 2step, dub, techno e grime, só em 2005 foi considerado efectivamente um género com potencial suficiente para permitir a impressão de uma marca de autor na matriz e partir para patamares mais ambiciosos que os significativos volumes de vinis de 12†que vão invadindo as lojas especializadas – Hatcha, Youngsta, Skream ou Digital Mystik - ou as meras antologias temáticas – Skreamizm, The Roots of Dubstep ou Dubstep All Stars – que por vezes entram numa espiral repetitiva sem interesse.
Com a edição de Memories Of The Future começamo-nos a aperceber de um traço em comum não só com os registos da Hyperdub mas em geral no dubstep: uma linguagem que assenta nos pressupostos inscritos nos tÃtulos dos temas e que desenvolvem uma ideia de tensão urbana, surrealista e virtual. Ideias capazes de redireccionar os sentimentos negros da alma humana para um estado ainda mais sinuoso e simultaneamente rogarem por um mundo em declÃnio enquanto que a sugestão de um futuro já vivido nos assalta a continuidade temporal.
Uma vez mais o universo descrito por Philip K. Dick em Do Androids Dream of Electric Sheep? volta a ser o cenário que nos assola a memória. Burial foi dos primeiros a sugerir espaço próprio e a visionar essa memória de forma eficaz, introduzindo novas nuances ao género. Lentamente novos elementos são acrescentados á matriz. Evoluções que desafiam os primeiros traços genéticos para além da estrutura que as Dubstep All Stars nos habituaram e que só mesmo um trabalho individual de longa duração pode proporcionar de forma evidente. Até ao momento poucos se têm-se aventurado para além do formato de 12†- Vex'D, Burial, Boxcutter e Kode 9 + The Sapceape, brevemente será a vez de Skream - mas os poucos que o fizeram evidenciaram estudo, direcção, sensibilidade suficiente para erguer um conjunto de peças capazes de interagir umas com as outras. Das editoras ligadas ao dubstep, apenas a Hyperdub, comandada por Kode 9, têm sido capaz de complementar a lacuna e implementar uma sonoridade onde o objectivo primordial é mistificar o género e mais, atribuir-lhe carácter suficiente para que as redundâncias comecem a soar a um sincretismo eloquente onde presente e futuro assemelham-se ao consciente e inconsciente, ao real e sobrenatural.
Mas será que se trata de uma miscelânea de tensão urbana actual reflectida no dia seguinte? A especulação levada a um extremo onde torna-se difÃcil a ressurreição dos paradigmas da música actual? No caso da Hyperdub dirÃamos que sim. Apesar da verdade aparentemente absoluta das mensagens difundias pela editora, e enunciadas num tom fantasmagórico, existem dúvidas naturais sobre, não só os objectos finais, mas o que acaba por sugerir a editora com os elementos erráticos que lança da sua base para o resto da música actual. Burial fá-lo com uma evidência surpreendente e Kode 9 acompanha. Estaremos então perante a desconstrução da tradição e a consequente erecção de novos paradigmas ou devemos encarar o trabalho da Hyperdub como pontuais exercÃcios criativos em torno do próprio dubstep? Questão que o futuro nos responderá com a brevidade que entender ser necessária para classificar uma obra como intemporal ou inconsequente.
Se encaramos a certeza da novidade inscrita nas linguagens do próprio género teremos a satisfação de descobrir um mundo novo, ignorando o impacto da música na cultura urbana actual, mas se o efeito e casualidade forem considerados como indiscutÃveis e resultado de uma investigação extensa – como parece ser o caso – ao alongo dos últimos anos, teremos a mesma satisfação, mais a convicção que estaremos perante obras que sobreviverão para alem do sufoco criativo do dubstep.
Para já debrucemo-nos com pouco mais de cuidado sobre a matéria em mãos e retirar algumas conclusões para o imediato. Será inegável que as expectativas foram superadas no que diz respeito aos álbuns de estreia da Hyperbub. Bem como prazer na actual música de dança renovado e, mesmo deixando para depois a resposta à questão sugerida por muitos – sobre o valor da pedrada no charco que ambos os discos representam – o certo é que ambos os discos são factos estéticos nascidos no mesmo laboratório mas com fórmulas idealizadas por gente diferente.
Kode 9 + The Spaceape Memories of the Future 2006 Hyperdub Flur |
Em Memories of the Future, Kode 9 e Spaceape, num escape iminente para uma dimensão alternativa, sentem uma necessidade, ao contrário de Burial, da viagem para além do interior, uma viagem no continuum temporal. O relato sombrio cataliza a cápsula, atirando-a entre o presente e o futuro. A fricção dos baixos subsónicos sugere uma viagem atribulada. O dub narcótico define o tom misterioso. As cadências, num tom dubstep mais evidente, fazem a indulgência enigmática e determinam a gestão do espaço, da palavra e da melodia. Kode 9 regula-nos os sentidos para estarmos receptivos ao negrume frio e alienÃgena de quem já se apercebeu que o mundo caminha para o abismo. PodÃamos estar perante mais uma banda sonora de qualquer filme sci-fi pessimista e que anuncia o lento fim de tudo o que é vivo, restando máquinas possuÃdas por rancor e que ficcionam nas entrelinhas das dúvidas e medos tudo o que gostariamos de bom para o porvir. Com o medonho sussurrar de palavras de Spaceape, e do tom catastrófico como anuncia as memórias do futuro, o sopro desconfiado acaba por nos acalentar alma como se, em pleno transe, aceitássemos o aftermath. Talvez o talento inscrito nestas linhas esteja aÃ: na capacidade de interpretar o futuro e dele extrair sabedoria.
VÍDEO Kode9 & the Spaceape "9 Samurai"
http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=668824119
ARTIGO + VÍDEO REALIZADO PELA BBC SOBRE O DUBSTEP
http://www.bbc.co.uk/dna/collective/A10695684
SITES COM INTERESSE:
http://www.hyperdub.com
http://www.hyperdub.net/burial
http://kode9.blogspot.com
http://www.dubplate.net
http://dubstepforum.com
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http://www.tempa.co.uk
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http://www.dubstepradio.com
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DOWNLOAD GRATUITO - Dubstep Forum Anniversary Mix misturado por N-Type
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OUTROS DOWNLOADS GRATUITOS - DUBSTEP/GRIME
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