Duendes, escaravelhos e a revolução tecnológica
· 03 Mar 2004 · 08:00 ·
Em 1991 eu apenas gostava muito de Pixies. Nesse mesmo ano, acontecimentos anómalos afastaram-me do Coliseu do Porto. Desde então que a paixão pela banda de Boston não parou de crescer, da mesma forma que o arrependimento, por ter falhado o concerto, foi aumentando. Felizmente, existe a esperança. Durante anos alimentei-a e acreditei sempre que, um dia, o regresso seria inevitável. As recentes compilações e os boatos que corriam assim o indicavam. Se lhes juntarmos a reunião de outros nomes grandes da música, como Bauhaus, Sex Pistols, Blondie, Duran Duran e The Doors (versão século XXI), então nada inviabilizava a possibilidade de os Pixies voltarem a subir aos palcos, em especial os portugueses. E é isso mesmo que eles vão fazer, dia 11 de Junho de 2004, na 10ª Edição do Festival Super Bock Super Rock onde, há 9 anos atrás, assisti então ao seu arranque e a um concerto inesquecível dos The Cure. Voltando aos Pixies, se aquilo que os move passa por interesses financeiros, ou outras coisas que não o impulso musical, é-me indiferente. Preocupo-me mais com a possibilidade de darem um mau concerto. Terei a resposta dentro de três meses. Até lá, resta-me contar os dias e aguardar, ansiosamente, pelo momento em que vir entrar em palco uma das maiores bandas rock de todos os tempos.

Aproveitando o facto de estar a falar de um festival, não poderia deixar de mencionar o Festival Bor Land/Maus Hábitos, que decorrerá no Espaço portuense, nos próximos dias 4, 5, 6, 11, 12 e 13 de Março, com o apoio da Rockmusic, e a propósito do lançamento da compilação “CD1MHâ€, com edição a cargo da Bor Land. Durante seis dias, Fat Freddy, Simpletone, The Grey Blues Bend, The Brights, Rose Blanket e Tenaz ocupam a sala dos fundos do Maus Hábitos para actuações que, por certo, irão agradar a todos os melómanos que por lá passarem. Podem obter mais informações, sobre a compilação e o evento, no “universo fabuloso†de www.bor-land.com.

Quando se fala de bandas, concertos e editoras, acaba-se sempre por enveredar por discussões em torno de álbuns, edições, vendas e downloads. A propósito disto, gostava de mencionar um artigo bastante elucidativo, publicado pelo jornal Público, no passado dia 24 de Fevereiro, sobre o comportamento do mercado discográfico português em 2003. Segundo o diário, apesar de se ter verificado um aumentado no número de edições e concertos em Portugal, o mesmo não se verificou na venda do CD, que registou uma quebra de 10%. Mas a crise faz-se notar mais nas novidades. Nos CD em promoção as vendas tiveram um aumento de 59%. Quem também tem vindo a subir são os DVD musicais, atingindo, em 2003, as 753 mil unidades (venderam-se 339 mil no ano transacto). Perante estes números, a conclusão parece óbvia: o consumo do CD tem por base o seu custo. Por isso mesmo, o consumidor adquire o CD em promoção, em detrimento da novidade. Em algumas das promoções da FNAC, por exemplo, podemos mesmo comprar 3 CD, relativamente recentes, pelo preço de um acabado de chegar ao mercado. Ou seja, é tudo uma questão de preço exagerado porque comprar, ainda muitos o fazem. No fundo, e olhando para o passado, sou levado a crer que pouco se alterou. Se agora temos o CD-R e o download, em tempos tínhamos a cassete. Mudou apenas o nome, mas manteve-se a incapacidade das editoras em se adaptarem à realidade do mercado, não praticando preços competitivos e, muito menos, apresentando soluções alternativas e viáveis. Fazendo uma análise fria da realidade, sou levado a crer que o CD vai mesmo seguir o caminho do Vinil. Aliás, dentro de dez anos devemos estar a viver o auge da era digital, num mundo de downloads e ficheiros informáticos em pequenas máquinas, leves e de fácil transporte. Quem discordar só tem que recuar dez anos no tempo e fazer comparações. Quanto ao DVD é o típico fenómeno “modaâ€. Até a minha prima de oito anos tem um…

Mas aquilo que mais me tem feito sorrir são as observações de colegas relativamente à venda de discos portugueses. Olhando para os números e, efectivamente, 2003 foi um bom ano, com cinco álbuns entre os dez mais vendidos. Mas foi para a indústria, não para a música portuguesa. Segundo os dados da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP), os cinco discos mais vendidos foram: “Concerto acústicoâ€, de Rui Veloso (3.º lugar); “As canções da carochinha†(6.º lugar); “Fado Curvoâ€, de Mariza (8.º lugar); “Adiafaâ€, dos Adiafa (9.º lugar); e a banda sonora de “Saber Amar†(10.º lugar). O único digno de registo é “Fado Curvoâ€, de Mariza. Os restantes são compilações, um “O melhor de … ao vivo†e, por fim, o disco “humor†que pegou moda. Não vejo isto como tendo sido um bom ano para a música portuguesa, mas sim para as editoras. Seria um bom ano se tivéssemos os Blind Zero, Balla, Old Jerusalem, Stealing Orchestra, Mafalda Arnauth ou outros nomes mais a acompanhar Mariza. Aí sim, acharia que tinha sido um bom ano, pois significava que se estava a consumir boa música portuguesa e, principalmente, nova.

Boa música portuguesa é a que se ouve na Rádio Fnac, quinzenalmente, sempre às quartas-feiras, no Fórum Fnac de Sta. Catarina, no Porto. Durante cerca de duas horas simula-se uma sessão radiofónica, em directo e com direito a assistência. Um grupo de interlocutores dá a conhecer as novas tendências da música portuguesa, discute temas da actualidade e convida personalidades do meio a participarem. Tem sido um prazer partilhar os microfones com Isidro Lisboa (Rádio Nova); Jorge Manuel Lopes (Blitz); Artur Silva (Divergencias.com); Carlos Vieira (Xinfrim); António Jorge (RDP); e Nuno Passos (Público). Os projectos que tiverem interesse em fazer-se ouvir, podem entrar em contacto comigo através do e-mail habitual. Terei todo o gosto em dar-vos a conhecer.
Jorge Baldaia

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