A fórmula para a canção “perfeita”
· 07 Jan 2004 · 08:00 ·
Podia entrar em 2004 com um artigo em tom de revisão do ano anterior e prognosticando e augurando coisas boas para o que já começou. Fazer uma avaliação do universo musical com elogios, críticas e sugestões. Mas não. Também podia falar da Operação Triunfo e do Ídolos na sua busca desenfreada pela descoberta do grande novo talento da música portuguesa. Mas não. Até poderia escrever sobre o Rock In Rio Lisboa e dos nomes sonantes que trará até à capital. Mas não. Prefiro falar da canção pop perfeita.
Algo que todos aqueles com ligações à música têm questionado desde sempre é quais os ingredientes para a criação da canção perfeita. Haverá uma fórmula? Não, mas ao que parece podemos saber se determinada canção poderá vir a ser um sucesso. “Como é possível tal coisa?” perguntam vocês e muito bem. Basta que submetam uma canção ao Polyphonic Human Media Interface Hit Song Science, um programa de inteligência artificial, que ele vos dará uma resposta. Mas o que faz, afinal, este programa? Segundo o artigo da jornalista Clara Barata, publicado na página 45, edição de 28 de Dezembro de 2003 da Revista Pública, “detecta semelhanças acústicas entre músicas, sejam elas ritmos ou melodias e depois compara-as com as assinaturas matemáticas de canções que estiveram no Top 40 dos últimos 30 anos”. Pelos vistos o programa já começa a ser usado por muita gente da indústria musical. Os interessados em testá-lo podem consultar o site oficial em www.hitsongscience.com e descobrir se vão ter ou não sucesso comercial.
No mesmo artigo da Revista Pública “Come Away with Me”, de Norah Jones, foi identificado como um exemplo de sucesso garantido pelo Hit Song Science. Mas quais são as semelhanças entre este e outros temas tão marcantes quanto “Blue Monday” (New Order), “Smells Like Teen Spirit” (Nirvana) ou “Like a Virgin” (Madonna)? Estaremos perante uma espécie de detector de mentiras adaptado aos sons? Já diz o velho ditado que “as aparências iludem”… Certas coisas têm tudo para ter sucesso e depois acabam em fracasso. Alguns fenómenos não têm explicação. Ainda se lembram dos Silence 4? Depois não basta ter a garantia de uma máquina. Se os media ignorarem a “canção perfeita” dificilmente ela chegará ao público e terá o sucesso a que supostamente estaria destinada. É que ainda existem muitos jornalistas preconceituosos e que “detestam” associações a fenómenos de sucesso. Preferem o alternativo difícil de encontrar nas prateleiras das discotecas ao tendencialmente susceptível de vincar em termos de vendas. E se por acaso se obtém visibilidade exagerada então é de esperar um “já não são o que eram”. Foi o que aconteceu com bandas como os Tindersticks e os Suede. Mas também sucede o contrário. Olhe-se o exemplo dos Blur. Isto para dizer que o sucesso de uma música passa pela sua exposição. O programa até pode dizer “é esta” mas o passo mais importante é o seguinte – convencer os media das vantagens em destacar determinados temas.
Não acredito na canção pop perfeita. Neste mundo a arte não é perfeita. É neste ponto que reside a sua beleza. E vocês acreditam que é possível encontrar uma fórmula matemática para a canção perfeita?
Jorge BaldaiaAlgo que todos aqueles com ligações à música têm questionado desde sempre é quais os ingredientes para a criação da canção perfeita. Haverá uma fórmula? Não, mas ao que parece podemos saber se determinada canção poderá vir a ser um sucesso. “Como é possível tal coisa?” perguntam vocês e muito bem. Basta que submetam uma canção ao Polyphonic Human Media Interface Hit Song Science, um programa de inteligência artificial, que ele vos dará uma resposta. Mas o que faz, afinal, este programa? Segundo o artigo da jornalista Clara Barata, publicado na página 45, edição de 28 de Dezembro de 2003 da Revista Pública, “detecta semelhanças acústicas entre músicas, sejam elas ritmos ou melodias e depois compara-as com as assinaturas matemáticas de canções que estiveram no Top 40 dos últimos 30 anos”. Pelos vistos o programa já começa a ser usado por muita gente da indústria musical. Os interessados em testá-lo podem consultar o site oficial em www.hitsongscience.com e descobrir se vão ter ou não sucesso comercial.
No mesmo artigo da Revista Pública “Come Away with Me”, de Norah Jones, foi identificado como um exemplo de sucesso garantido pelo Hit Song Science. Mas quais são as semelhanças entre este e outros temas tão marcantes quanto “Blue Monday” (New Order), “Smells Like Teen Spirit” (Nirvana) ou “Like a Virgin” (Madonna)? Estaremos perante uma espécie de detector de mentiras adaptado aos sons? Já diz o velho ditado que “as aparências iludem”… Certas coisas têm tudo para ter sucesso e depois acabam em fracasso. Alguns fenómenos não têm explicação. Ainda se lembram dos Silence 4? Depois não basta ter a garantia de uma máquina. Se os media ignorarem a “canção perfeita” dificilmente ela chegará ao público e terá o sucesso a que supostamente estaria destinada. É que ainda existem muitos jornalistas preconceituosos e que “detestam” associações a fenómenos de sucesso. Preferem o alternativo difícil de encontrar nas prateleiras das discotecas ao tendencialmente susceptível de vincar em termos de vendas. E se por acaso se obtém visibilidade exagerada então é de esperar um “já não são o que eram”. Foi o que aconteceu com bandas como os Tindersticks e os Suede. Mas também sucede o contrário. Olhe-se o exemplo dos Blur. Isto para dizer que o sucesso de uma música passa pela sua exposição. O programa até pode dizer “é esta” mas o passo mais importante é o seguinte – convencer os media das vantagens em destacar determinados temas.
Não acredito na canção pop perfeita. Neste mundo a arte não é perfeita. É neste ponto que reside a sua beleza. E vocês acreditam que é possível encontrar uma fórmula matemática para a canção perfeita?