Lágrimas de crocodilo
· 16 Dez 2003 · 08:00 ·
Nos últimos meses estive envolvido a fundo na organização da II Edição do Rockmusic Challenge, um concurso de novos talentos, que decorreu entre o Espaço Maus Hábitos, no Porto, e o Hard Club, em Vila Nova de Gaia. Desde as eliminatórias à final o público aderiu em grande número, superando as expectativas da organização. Podemos dizer que nesse aspecto foi um sucesso. No que respeita à qualidade dos projectos e da atenção dos media também. Foi uma experiência bem sucedida e que viria a fortalecer ainda mais a visão que já tinha do meio musical português.

Permanece, contudo, uma tendência natural para a lamúria. Quando nada se faz todos se lamentam por isso e cria-se a imagem dos “pobres coitados†destinados a existirem no anonimato. Porém, quando alguém procura contrariar essa tendência e, efectivamente, faz alguma coisa para alterar o rumo comodista, as críticas surgem de forma efusiva. Começam com as dúvidas acerca das selecções de projectos a concurso e, quando esse argumento cai por terra, passa-se para o factor “cunha†e para as denúncias de lobbies e afins. Ao verificar-se que não existem surge o aspecto falta de condições e por aí adiante. Ou seja, tem-se sempre algo de negativo a apontar. Para mim a importância dos concursos ultrapassa as qualificações e os prémios. O mais importante é a criação de espaços para a música e, consequentemente, que se fale de quem a reproduziu nesses mesmos espaços.

A edição deste ano do Rockmusic Challenge provou que, quando há empenho dos organizadores e a comunidade musical se envolve, as iniciativas musicais conseguem despertar a atenção dos mais distraídos e chamar a si o destaque que aparentemente merecem. Neste caso em concreto não faltou aquilo que em outros tanto falta – mobilização. Os resultados fizeram-se sentir e acredito que todos ganharam com isso. Podemos então constatar que a “oposição†se reduziu a uma minoria. Mas mesmo os apoiantes, ou pelo menos uma parte deles, demonstrou uma falta de humildade e apresentou uma faceta de vedetismo preocupante. Fruto da atenção e do mediatismo que lhes foi concedido? Provavelmente.

No entanto, não foi este aspecto o que mais me impressionou. Da Antena3 à TSF, do Blitz à NTV, praticamente todos falaram do Rockmusic Challenge. Como em tudo existem algumas excepções, o que é normal. Anormal é a forma como se ignoram determinados assuntos da parte de quem supostamente não o deveria fazer. A indiferença de alguns suplementos semanais portugueses sobre música fez-se notar. Aparentemente foi mais importante falar dos melhores discos de 2003 (quando ainda faltavam quatro semanas para o final do ano e se adivinham algumas novas edições) e de eventos libidinosos a terem lugar na passagem de ano. Afinal parece que ainda existe um grande fosso entre “o dizer e o agirâ€. Nada a que não estejamos habituados.

Resumindo, queria apenas deixar aqui uma mensagem. Quem gosta verdadeiramente de música coloca sempre de lado os interesses individuais, os nacionalismos e o elitismo. Não se trata de pedantismo mas sim de reconhecimento ao que é feito com qualidade e inovação. Quando todos remam no mesmo sentido mais depressa se chega ao destino. Não temos necessariamente que ter a mesma opinião (as divergências têm sempre um lado positivo), mas se soubermos unir-nos quando é necessário veremos que conseguimos resultados inesperados e chamamos a atenção dos outros. A força sempre se fez de união. A música não é excepção à regra. Afinal, é um amor comum que nos une: o dos sons.
Jorge Baldaia

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