O Lendário Conjunto Vocal-Instrumental das Alunas do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão
· 22 Abr 2020 · 22:44 ·
Aygul , ou flor da lua, é uma planta endémica do sul do Quirguistão pertencente ao tipo
Fritillaria e ostenta o nome cientÃfico de Fritillaria eduardii Regel (Grouse Edward). Esta espécie
está em vias de extinção, tem 1 a 1,5 metros de altura e apresenta longas folhas verdes que
crescem por todo o caule. Os especialistas observaram que os rebentos da "flor da lua"
eclodem após sete anos e, só após outros sete, a primeira flor aparece.
Não foi no sul do Quirguistão, mas na mais “ocidental” Alma-Ata (Almaty na contemporaneidade), capital da então República Socialista Soviética do Cazaquistão que, em 1968, uma Aygul de doze pétalas desabrochou para mudar a forma como se fazia e interpretava o rock na URSS. Um homem, um filme e Marilyn Monroe foram o substrato para que doze mulheres, na realidade treze como veremos mais à frente, marcassem o seu lugar na história como a primeira banda rock(com forte pitada folk) totalmente feminina da União Soviética.
Apesar do feminino que toma conta de toda esta história, na génese deste projecto esteve um homem: Marat Baltabaev. Compositor e professor de ciências pedagógicas na Faculdade de Música do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão, Baltabaev teve a ideia para este projecto disruptivo na história do rock, e da música, depois de ver o “Some Like It Hot” (1959), filme em que dois gangsters saxofonistas de jazz vestem o papel de mulheres e integram uma banda totalmente feminina em que Marylin Monroe canta e toca ukelele enquanto derrete o coração de um dos badboys.
Das ocidentais praias hollywoodescas para as estepes cazaques voou, então, um desejo que uns tempos depois viria a ser concretizado: fundar uma banda jazz feminina no Cazaquistão. Em que momento Baltabaev trocou o jazz pelo rock-folk não sabemos, mas a verdade é que, dois anos depois, doze (treze se contarmos com um substituição pelo meio devido ao casamento da baterista original) das suas estudantes estariam a ensaiar pela primeira vez enquanto Aygul. Aygul e o etno-surf-rock:
Não se pense, porém, que Baltabaev era um iniciado neste tipo de projectos. Anos antes, ainda como estudante, o professor em colaboração comum com um amigo seu de nome Murat Auezov e outros estudantes cazaques que estudaram em Moscovo organizaram o movimento Zhas Tulpar. Durante as férias de verão, eles viajavam pelas aldeias, realizavam trabalhos educacionais e procuravam crianças talentosas. As suas acções, contudo, foram consideradas pelos órgãos estatais como nacionalismo e só se livrou do gulag devido à influência e interferência do seu pai.
Imagem poética para definir uma juventude desempoeirada e desinteressadamente apaixonada pela arte de fazer música, as Aygul, ou “Lendário Conjunto Vocal-Instrumental das Alunas do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão”, criaram pequenas obras-primas que combinavam tradições folclóricas nacionais e elementos musicais modernos (surf-rock, psych, etc) através de uma ampla variedade de instrumentos musicais em que se incluíam as tradicionais dombras, sintetizadores, shan-kobyz, asatayakas, doiras, saxofones, guitarras eléctricas, baixo, bateria e, claro está, voz.
A síntese entre o antigo e o novo encontrou expressão, em primeiro lugar, na capacidade de transmitir melodias populares numa linguagem musical moderna, factores singulares que as ajudaram a conquistar um rápido reconhecimento quer no Cazaquistão, quer no público de dezenas de países, entre os quais a RDA, a Jugoslávia, a Polónia, a França, o Japão, o Egipto e a Mongólia.
Muitas histórias há a contar sobre essas digressões que deixaremos para mais tarde. Antes de toda a vida de saltimbancos e baguetes (sim, leu bem), as Aygul submetiam-se a um programa diário que incluía aulas na parte da manhã, aulas individuais e regência de corais da parte da tarde, enquanto à noite (das 19 às 22h) se davam os ensaios de grupo. Ao longo de um ano, a esta rotina juntaram-se pequenos concertos teste na região de Alma-Ata e trabalho agrícola, um expediente que visava, segundo as crónicas, fortalecer o espírito de entreajuda entre os elementos do grupo.
Após dois anos de burilamento, e já com um repertorio definido, as Aygul estavam, finalmente, prontas para a acção. Para além dos vários subgéneros rock e de um estranho programa de dança, do menu servido pelo colectivo constavam ainda canções folclóricas do Cazaquistão e música clássica e pop (soviética e estrangeira) levados à prática em moldavo, ucraniano, tadjique e, até, espanhol. Todas as músicas eram arranjadas pelo próprio Marat Baltabaev.
Entre estas poliglotas composições encontrava-se o épico “Akbay”, tocada com eletro-dombra naquela que seria a primeira vez que uma banda utilizou a vanguardista electro-dombra em palco e “Gulderaim”, tema muito popular no Cazaquistão mas que poucos sabem pertencer, originalmente, às Aygul.
No caminho que do Instituto conduziria a além-fronteiras do país dos sovietes, as Aygul entraram na aguerrida competição criativa “Student Spring” que colocava em compita bandas dos diversos institutos do país. Alma-Ata fervia de entusiasmo com o grupo e abria-lhes caminho a um percurso pavimentado de prémios onde sobressaem o “Lenin Komsomol (1977-1978), o “People's Art Collective” (1975) e o estatuto de Membros Honorários da VDNKh URSS, o maior centro de exposições permanentes da União Soviética para onde eram convidados os artistas mais pungentes da nação das mais diversas áreas. A isto, tal como os Beatles tinham o The Cavern,as Aygul tornaram-se banda residente na sala de conferências no Comité Central do Komsomol do Cazaquistão, um edifício situado na confluência das ruas Tole Bi e Tchaikovsky.
Voltando à parte estritamente musical, o percurso das Aygul viria a culminar com o lançamento de um EP homónimo (que deixamos abaixo) e inúmeras digressões que, para além da música e do bom acolhimento por parte do público, trouxe uma série inigualável de histórias para contar.
Aygul pelas Aygul aka Lendário Conjunto Vocal-Instrumental das Alunas do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão:
O primeiro dos carimbos no passaporte das Aygul veio da Polónia. Em 1971, a banda aterra em Varsóvia para uma série de concertos que deixaria os polacos, especialmente os homens que tentaram, em vão, fazer-lhes juras de amor eterno, completamente boquiabertos. Um ano depois ei-las de volta ao continente europeu, desta feita em conjunto com o grupo Dos Mukasan, para uma série de concertos em França que deixou os nativos embevecidos, em especial os mais jovens. Se, no ano anterior, os polacos tiveram dificuldade em ir buscar o queixo ao chão, a França virou o bico ao prego com as Aygul a abrirem a boca de espanto com concertos num mosteiro e num soturno e fumarento clube de Montmartre. O espanto não se ficaria por aí. Entre polaroids nunca vistas, jarros com água e vinho ao jantar, ostras e delicatessens várias, às músicas que só queriam chá foi-lhes dado a provar baguete. Conclusão: as doze Aygul levaram as baguetes para o seu quarto do hotel onde as devorariam para espanto generalizado do staff que se perguntavam se elas nunca teriam visto pão.
Aygul e os Dos Mukasan aqui. http://www.guitaristka.ru/mp3/aygul/Aygul_Dosmukasan_brnende_sen_slu.mp3
Depois de avanços pela Alemanha e Egipto, o grande desafio chamava-se Japão. Existia, contudo, um problema: as autoridades japonesas consideravam o repertório das Aygul “demasiado nacionalista”. Como forma de resolver o “problema”, Marat Baltabaev decidiu corrigir o programa, deixando apenas a dombra dos instrumentos nacionais e alterou o final retirando o tema “Katyusha”.
Konichiwa devem ter dito as autoridades japonesas enquanto lhes passavam a autorização para viajarem para a terra do sol nascente. Japão OK, Comité Central do Komsomol OK e lá seguem, em 1976, as nossas doze flores da lua o grupo "Aigul" para o Japão. Refeitas de uma viagem de 12 horas de voo e de alguns desfalecimentos devido à humidade do ar no Japão, as Aygul encontraram um povo que se lhes dirigia com reverência e as brindavam com palmas sempre que caminhavam pela rua. Apesar de já terem alguma experiência internacional, nada as avisou para as pernas de rã fritas que lhes serviram e que elas confundiram com peixe e para alguns percalços no palco como sapatos trocados e a saia da vocalista que decidiu perder um botão durante uma nota. Apesar de todas as contrariedades, às mais cómicas descritas anteriormente há a somar a mesquinhez do agente que, no intuito de agradar à direcção do Partido Comunista da URSS, decidiu poupar no cachet das Aygul, o saldo desta digressão foi extremamente positivo como as palmas dos transeuntes japonesas atestam.
Tudo o que é bom chega, no entanto, a um fim. Depois de uma década de palco, as Aygul começaram a pensar na sua vida pessoal, tiveram filhos e tournées nunca mais. Fechou-se a flor da lua para só voltar a desabrochar décadas mais tarde. Em 2007, no 60º aniversário do Instituto voltaram ao palco e, em 2009, ano em que celebravam 40 anos de existência, o colectivo voltou a reunir-se para um concerto de comemoração em Almaty que, segundo consta, levou muitos a perguntarem-se em que é as Aygul teriam sido conservadas tal a frescura que levaram para cima do palco. A isto não será alheio o facto de que todas elas, de uma forma ou outra, terem seguido carreiras ligadas à música e se terem transformado em figuras de relevo no panorama artístico e pedagógico cazaque.
Excerto de actuações e “vídeoclips” das Aygul:
Enquanto, em Maio de 60, as ruas de Paris se enchiam de sonhos, algures na capital da então República Socialista Soviética do Cazaquistão o onírico desabrochava para a realidade no corpo de uma Flor da Lua de doze pétalas.
E porque estas pétalas pioneiras têm nome, aqui fica a composição do, para sempre, Lendário Conjunto Vocal-Instrumental das Alunas do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão:
Galina Karamoldaeva – voz e guitarra
Sakypzhamal Uzakbaeva – guitarra, líder da banda
Rosa Yernazarova – voz (mezzo-soprano)
Zauresh Alibekova – bateria (substituída por Gulzada Bekhteolova após o casamento)
Akmaral Artykova - sintetizador
Karlygash Murtazina – voz
Aigerim Daiyrbaeva – baixo
Mensulu Iskakova – saxofonista (primeira saxofonista do Cazaquistão)
Asiya Dospanova – dombrista
Balbope Baimagambetova – voz
Gulzhibek Ayazbaeva – voz
Naziya Bekhteolova – shan-kobyz, asatayaka e doira
Gulzada Bekhteolova - bateria
Fernando GonçalvesNão foi no sul do Quirguistão, mas na mais “ocidental” Alma-Ata (Almaty na contemporaneidade), capital da então República Socialista Soviética do Cazaquistão que, em 1968, uma Aygul de doze pétalas desabrochou para mudar a forma como se fazia e interpretava o rock na URSS. Um homem, um filme e Marilyn Monroe foram o substrato para que doze mulheres, na realidade treze como veremos mais à frente, marcassem o seu lugar na história como a primeira banda rock(com forte pitada folk) totalmente feminina da União Soviética.
Apesar do feminino que toma conta de toda esta história, na génese deste projecto esteve um homem: Marat Baltabaev. Compositor e professor de ciências pedagógicas na Faculdade de Música do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão, Baltabaev teve a ideia para este projecto disruptivo na história do rock, e da música, depois de ver o “Some Like It Hot” (1959), filme em que dois gangsters saxofonistas de jazz vestem o papel de mulheres e integram uma banda totalmente feminina em que Marylin Monroe canta e toca ukelele enquanto derrete o coração de um dos badboys.
© voxpopuli.ru
Das ocidentais praias hollywoodescas para as estepes cazaques voou, então, um desejo que uns tempos depois viria a ser concretizado: fundar uma banda jazz feminina no Cazaquistão. Em que momento Baltabaev trocou o jazz pelo rock-folk não sabemos, mas a verdade é que, dois anos depois, doze (treze se contarmos com um substituição pelo meio devido ao casamento da baterista original) das suas estudantes estariam a ensaiar pela primeira vez enquanto Aygul. Aygul e o etno-surf-rock:
Não se pense, porém, que Baltabaev era um iniciado neste tipo de projectos. Anos antes, ainda como estudante, o professor em colaboração comum com um amigo seu de nome Murat Auezov e outros estudantes cazaques que estudaram em Moscovo organizaram o movimento Zhas Tulpar. Durante as férias de verão, eles viajavam pelas aldeias, realizavam trabalhos educacionais e procuravam crianças talentosas. As suas acções, contudo, foram consideradas pelos órgãos estatais como nacionalismo e só se livrou do gulag devido à influência e interferência do seu pai.
© voxpopuli.ru
Imagem poética para definir uma juventude desempoeirada e desinteressadamente apaixonada pela arte de fazer música, as Aygul, ou “Lendário Conjunto Vocal-Instrumental das Alunas do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão”, criaram pequenas obras-primas que combinavam tradições folclóricas nacionais e elementos musicais modernos (surf-rock, psych, etc) através de uma ampla variedade de instrumentos musicais em que se incluíam as tradicionais dombras, sintetizadores, shan-kobyz, asatayakas, doiras, saxofones, guitarras eléctricas, baixo, bateria e, claro está, voz.
A síntese entre o antigo e o novo encontrou expressão, em primeiro lugar, na capacidade de transmitir melodias populares numa linguagem musical moderna, factores singulares que as ajudaram a conquistar um rápido reconhecimento quer no Cazaquistão, quer no público de dezenas de países, entre os quais a RDA, a Jugoslávia, a Polónia, a França, o Japão, o Egipto e a Mongólia.
© voxpopuli.ru
Muitas histórias há a contar sobre essas digressões que deixaremos para mais tarde. Antes de toda a vida de saltimbancos e baguetes (sim, leu bem), as Aygul submetiam-se a um programa diário que incluía aulas na parte da manhã, aulas individuais e regência de corais da parte da tarde, enquanto à noite (das 19 às 22h) se davam os ensaios de grupo. Ao longo de um ano, a esta rotina juntaram-se pequenos concertos teste na região de Alma-Ata e trabalho agrícola, um expediente que visava, segundo as crónicas, fortalecer o espírito de entreajuda entre os elementos do grupo.
© voxpopuli.ru
Após dois anos de burilamento, e já com um repertorio definido, as Aygul estavam, finalmente, prontas para a acção. Para além dos vários subgéneros rock e de um estranho programa de dança, do menu servido pelo colectivo constavam ainda canções folclóricas do Cazaquistão e música clássica e pop (soviética e estrangeira) levados à prática em moldavo, ucraniano, tadjique e, até, espanhol. Todas as músicas eram arranjadas pelo próprio Marat Baltabaev.
Entre estas poliglotas composições encontrava-se o épico “Akbay”, tocada com eletro-dombra naquela que seria a primeira vez que uma banda utilizou a vanguardista electro-dombra em palco e “Gulderaim”, tema muito popular no Cazaquistão mas que poucos sabem pertencer, originalmente, às Aygul.
No caminho que do Instituto conduziria a além-fronteiras do país dos sovietes, as Aygul entraram na aguerrida competição criativa “Student Spring” que colocava em compita bandas dos diversos institutos do país. Alma-Ata fervia de entusiasmo com o grupo e abria-lhes caminho a um percurso pavimentado de prémios onde sobressaem o “Lenin Komsomol (1977-1978), o “People's Art Collective” (1975) e o estatuto de Membros Honorários da VDNKh URSS, o maior centro de exposições permanentes da União Soviética para onde eram convidados os artistas mais pungentes da nação das mais diversas áreas. A isto, tal como os Beatles tinham o The Cavern,as Aygul tornaram-se banda residente na sala de conferências no Comité Central do Komsomol do Cazaquistão, um edifício situado na confluência das ruas Tole Bi e Tchaikovsky.
© voxpopuli.ru
Voltando à parte estritamente musical, o percurso das Aygul viria a culminar com o lançamento de um EP homónimo (que deixamos abaixo) e inúmeras digressões que, para além da música e do bom acolhimento por parte do público, trouxe uma série inigualável de histórias para contar.
Aygul pelas Aygul aka Lendário Conjunto Vocal-Instrumental das Alunas do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão:
O primeiro dos carimbos no passaporte das Aygul veio da Polónia. Em 1971, a banda aterra em Varsóvia para uma série de concertos que deixaria os polacos, especialmente os homens que tentaram, em vão, fazer-lhes juras de amor eterno, completamente boquiabertos. Um ano depois ei-las de volta ao continente europeu, desta feita em conjunto com o grupo Dos Mukasan, para uma série de concertos em França que deixou os nativos embevecidos, em especial os mais jovens. Se, no ano anterior, os polacos tiveram dificuldade em ir buscar o queixo ao chão, a França virou o bico ao prego com as Aygul a abrirem a boca de espanto com concertos num mosteiro e num soturno e fumarento clube de Montmartre. O espanto não se ficaria por aí. Entre polaroids nunca vistas, jarros com água e vinho ao jantar, ostras e delicatessens várias, às músicas que só queriam chá foi-lhes dado a provar baguete. Conclusão: as doze Aygul levaram as baguetes para o seu quarto do hotel onde as devorariam para espanto generalizado do staff que se perguntavam se elas nunca teriam visto pão.
Aygul e os Dos Mukasan aqui. http://www.guitaristka.ru/mp3/aygul/Aygul_Dosmukasan_brnende_sen_slu.mp3
Depois de avanços pela Alemanha e Egipto, o grande desafio chamava-se Japão. Existia, contudo, um problema: as autoridades japonesas consideravam o repertório das Aygul “demasiado nacionalista”. Como forma de resolver o “problema”, Marat Baltabaev decidiu corrigir o programa, deixando apenas a dombra dos instrumentos nacionais e alterou o final retirando o tema “Katyusha”.
© voxpopuli.ru
Konichiwa devem ter dito as autoridades japonesas enquanto lhes passavam a autorização para viajarem para a terra do sol nascente. Japão OK, Comité Central do Komsomol OK e lá seguem, em 1976, as nossas doze flores da lua o grupo "Aigul" para o Japão. Refeitas de uma viagem de 12 horas de voo e de alguns desfalecimentos devido à humidade do ar no Japão, as Aygul encontraram um povo que se lhes dirigia com reverência e as brindavam com palmas sempre que caminhavam pela rua. Apesar de já terem alguma experiência internacional, nada as avisou para as pernas de rã fritas que lhes serviram e que elas confundiram com peixe e para alguns percalços no palco como sapatos trocados e a saia da vocalista que decidiu perder um botão durante uma nota. Apesar de todas as contrariedades, às mais cómicas descritas anteriormente há a somar a mesquinhez do agente que, no intuito de agradar à direcção do Partido Comunista da URSS, decidiu poupar no cachet das Aygul, o saldo desta digressão foi extremamente positivo como as palmas dos transeuntes japonesas atestam.
Tudo o que é bom chega, no entanto, a um fim. Depois de uma década de palco, as Aygul começaram a pensar na sua vida pessoal, tiveram filhos e tournées nunca mais. Fechou-se a flor da lua para só voltar a desabrochar décadas mais tarde. Em 2007, no 60º aniversário do Instituto voltaram ao palco e, em 2009, ano em que celebravam 40 anos de existência, o colectivo voltou a reunir-se para um concerto de comemoração em Almaty que, segundo consta, levou muitos a perguntarem-se em que é as Aygul teriam sido conservadas tal a frescura que levaram para cima do palco. A isto não será alheio o facto de que todas elas, de uma forma ou outra, terem seguido carreiras ligadas à música e se terem transformado em figuras de relevo no panorama artístico e pedagógico cazaque.
Excerto de actuações e “vídeoclips” das Aygul:
Enquanto, em Maio de 60, as ruas de Paris se enchiam de sonhos, algures na capital da então República Socialista Soviética do Cazaquistão o onírico desabrochava para a realidade no corpo de uma Flor da Lua de doze pétalas.
E porque estas pétalas pioneiras têm nome, aqui fica a composição do, para sempre, Lendário Conjunto Vocal-Instrumental das Alunas do Instituto Pedagógico das Mulheres do Estado do Cazaquistão:
Galina Karamoldaeva – voz e guitarra
Sakypzhamal Uzakbaeva – guitarra, líder da banda
Rosa Yernazarova – voz (mezzo-soprano)
Zauresh Alibekova – bateria (substituída por Gulzada Bekhteolova após o casamento)
Akmaral Artykova - sintetizador
Karlygash Murtazina – voz
Aigerim Daiyrbaeva – baixo
Mensulu Iskakova – saxofonista (primeira saxofonista do Cazaquistão)
Asiya Dospanova – dombrista
Balbope Baimagambetova – voz
Gulzhibek Ayazbaeva – voz
Naziya Bekhteolova – shan-kobyz, asatayaka e doira
Gulzada Bekhteolova - bateria
f.guimaraesgoncalves@gmail.com