Bichano Records
· 12 Nov 2015 · 23:13 ·
No outro lado do Atlântico há uma editora cujas regras - ou falta delas - levaram ao nosso mais absoluto interesse. Senhoras e senhores, a Cafetra tem um irmão que fala com sotaque brasileiro; e, tal como em Lisboa, a música que se ouve por Terras de Vera Cruz não é menos que extraordinária.

Coloquemos de parte, por breves instantes apenas, o coração nosso que bate à esquerda do corpo e saudemos a globalização - ou, pelo menos, o lado da globalização que nos permite estar em contacto directo com outras culturas, outros povos, outras formas de arte num mesmo espaço - essa maravilhosa Internet -, sem que seja necessário gastar mais do que um pouco de teclado e alguns minutos das nossas vidas a descobrir o que se passa do outro lado de um oceano. Porque partir horizontes em mil pedaços faz parte da vida, do sonho, da aventura.

maquinas

Saudemos a descoberta que uma turminha brasileira (o "turminha" é extremamente condescendente, eu sei, mas perdoem-me porque estou só a tentar alegrar o texto e é uma palavra bem bonita) fã dos Swans fez da melhor página do Facebook e arredores, porque de outra forma não teríamos chegado até aqui, à Bichano Records, uma editora do Rio de Janeiro que, escrevem eles no Bandcamp, lançam coisas bonitas e, sobretudo, sinceras. (Também não teríamos chegado à m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a Juçara Marçal, mas isso ficará para outro artigo, podendo.)

Não queremos duvidar dessa questão da "sinceridade", mas o termo tem sido usado por tanta má gente que não há como não ter um certo receio antes de começar a picar todos os lançamentos da Bichano - além de que a sinceridade não se mede através da comunicação em rede e sim olhos nos olhos. Mas como não podemos ir até lá, nem eles até cá, acreditemos nisto for the sake of the argument. E depois decidimo-nos a ouvir; e a música, linguagem universal, diz-nos que todos os nossos receios eram completamente infundados.

gorduratrans

São vários os EPs, discos e canções soltas que se podem ouvir por aqui, de forma inteiramente gratuita, numa quase miríade de géneros: lo-fi, shoegaze, Emo do bom, pós-rock. São vários os projectos, também, cada qual com um nome melhor do que o outro (gorduratrans é capaz de ser mesmo o melhor). Sacamos uma e outra música, ouvimos muitas mais, e um pensamento enche-nos a cara de bofetadas: isto é a Cafetra versão carioca! Os pontos de contacto são mais do que notórios, e é precisamente esse lado que nos leva a, primeiro, apaixonarmo-nos pela Bichano e, segundo, sentirmos a necessidade de a apresentar ao mundo (ou, pelo menos, à facção minúscula e portuguesa que acompanha esta webzine).

Empate

Tudo aqui é DIY, tudo cantado na língua-nossa, tudo com a mesma Vontade, v maiúsculo, de querer deixar uma pegada que não seja meramente digital mas igualmente cultural e quem sabe até física - o esprit de corps de um punhado de possíveis putos do Brasil que sabem que o mundo é mais do que aquilo que se nos coloca diante dos olhos. Da Bichano chegamos a january cold e dupladinamica1, canções de viola na mão e Macbook a gravar na penumbra do quarto; ao noise rock que olha para os seus sapatos dos Laundromaths e ao shoegaze chapado dos gorduratrans; aos Raça, uns Boris em modo suave, e aos maquinas, os Linda Martini do outro lado do mundo (porra, ouçam esta; e a muito Emo e pós-hardcore, destacando-se os Ombu e Empate. Para além de uma série de compilações curadas pela editora, carinhosamente intituladas Diários emocionais. Porque o alternativo de sotaque verde e amarelo não tem que ser só os Boogarins, fica aí em baixo o Bandcamp dos moços e moças, onde poderão ouvir tudo aquilo que eles têm para nos oferecer. E agora é só esperar que a Ryanair safe umas rotas baratas para irmos (ou virem eles) Atlântico fora para sermos todos sinceros IRL. Ainda têm dúvidas? Estamos na Internet, foda-se: ninguém duvida de gatos.

http://bichanorecords.bandcamp.com
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

Parceiros