A Novela Cultural
· 08 Jul 2003 · 08:00 ·
Nas últimas semanas o mundo da cultura portuguesa tem andado bastante animado. A cada dia que passa somos confrontados com novos episódios de uma novela que parece interminável. Para começar temos a polémica em torno da Casa da Música – esse ícone da Porto Capital Europeia da Cultura 2001 que será uma referência da cultura a nível mundial quando estiver pronta – com despedimentos e ataques de todas as partes envolvidas em plena praça pública. Mas a verdade é que a informação é tanta que já ninguém sabe o que realmente se passa, quanto dinheiro se gastou ou vai gastar, quem disse o quê, quando, a quem e porquê. A mim, pessoalmente, agrada-me pelo seu lado imprevisível e de suspense. Tem um quê de David Lynch, o que é sempre bom. Depois, e como se já não bastasse, temos novos desenvolvimentos sobre a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). As eleições para a administração e direcção da SPA foram adiadas num acto de cavalheirismo por parte da Lista A, encabeçada por Vasco Graça Moura, e para que a Lista B de Manuel Freire pudesse resolver as irregularidades que a impediriam de concorrer. Um acto de louvar. Eu faria o mesmo. Isso de ganhar na secretaria é para os cobardes.
E já que se fala da SPA não poderia ignorar o homem que comandou os seus destinos durante os últimos 30 anos, Luiz Francisco Rebello. Que a SPA anda a ser investigada desde Janeiro já todos sabem. Que a gestão dos últimos anos foi desastrosa também. Que existem suspeitas sobre a actuação de Luiz Francisco Rebello e da sua filha, Catarina Rebello, idem aspas. Mas que a Polícia Judiciária estava a levar a coisa a sério, isso duvido que muitos soubessem. Mas anda, e tanto que fizeram uma busca aos dois edifícios da SPA em Lisboa e às residências do senhor e da sua filha. Recolha de provas, diz-se. Esperemos que esta novela acabe o mais rápido possível e a verdade venha ao de cima. Tenho a certeza que o senhor pensa da mesma forma. Não sei porquê, mas tenho o pressentimento que o processo da SPA vai terminar ainda antes da conclusão das obras na Casa da Música. Cá estarei para o confirmar.
Quem parece ter saído da sombra foi o ministro da cultura, Pedro Roseta. Em apenas uma semana tomou uma decisão e resolveu dar uma entrevista ao Suplemento “Actual”, do Semanário Expresso, publicada na edição do passado dia 5 de Julho. Afinal, ele anda por aí. Mas que não se enganem os mais optimistas. Na referida entrevista afirmou algo que me deixou profundamente surpreendido: “Cultivo muito a fragilidade”. Não fazia a mínima ideia… Porém, a verdadeira surpresa surge quando fala da possibilidade de se tornar o livro mais acessível com uma redução no IVA. “Vamos ver”, diz, salientando ainda que já o defendeu em relação à música. Mas só foi mesmo isso, uma defesa. A verdade é que tudo indica que continuaremos a pagar 19% de IVA nos discos e, quem sabe, ainda menos que 5% nos livros. Agora sou eu que o digo: vamos ver.
Mas esta não foi a única grande entrevista do passado dia 5 de Julho. Na DNa, do Diário de Notícias, David Ferreira, “patrão” da EMI-Valentim de Carvalho em Portugal, é entrevistado pela jornalista Anabela Mota Ribeiro. Na capa poderia ler-se “A música, em Portugal, deve muito a este homem. Já era tempo de o conhecermos melhor”. Era sim senhor. David Ferreira, que um dia “quis ser cowboy”, é uma referência na música portuguesa. Quanto a isso não existem dúvidas. Mas vamos ao que interessa. Em apenas um parágrafo David Ferreira explica o porquê de a música portuguesa não ter sucesso lá fora: “somos periféricos”; “temos raízes (…) profundas”; o nosso inglês soa a “postiço”; e o que se faz por cá “salvo raríssimas excepções, é tudo sub-produto”. E se o fizermos em português “estamos a dirigir-nos a um público reduzido”. Não discordo. No entanto não me parece lógico que os jornalistas continuem a colocar questões sobre internacionalização e os responsáveis da indústria a responderem-lhes quando nem sequer em Portugal a nossa música se impõe. É tempo perdido, pura utopia e fuga à questão central – criar condições para que exista qualidade naquilo que fazemos.
Como facilmente podem constatar, a primeira semana de Julho foi ávida em acção cultural. Esperemos que as próximas também o sejam. Quanto às audiências, essas estão garantidas.
Jorge BaldaiaE já que se fala da SPA não poderia ignorar o homem que comandou os seus destinos durante os últimos 30 anos, Luiz Francisco Rebello. Que a SPA anda a ser investigada desde Janeiro já todos sabem. Que a gestão dos últimos anos foi desastrosa também. Que existem suspeitas sobre a actuação de Luiz Francisco Rebello e da sua filha, Catarina Rebello, idem aspas. Mas que a Polícia Judiciária estava a levar a coisa a sério, isso duvido que muitos soubessem. Mas anda, e tanto que fizeram uma busca aos dois edifícios da SPA em Lisboa e às residências do senhor e da sua filha. Recolha de provas, diz-se. Esperemos que esta novela acabe o mais rápido possível e a verdade venha ao de cima. Tenho a certeza que o senhor pensa da mesma forma. Não sei porquê, mas tenho o pressentimento que o processo da SPA vai terminar ainda antes da conclusão das obras na Casa da Música. Cá estarei para o confirmar.
Quem parece ter saído da sombra foi o ministro da cultura, Pedro Roseta. Em apenas uma semana tomou uma decisão e resolveu dar uma entrevista ao Suplemento “Actual”, do Semanário Expresso, publicada na edição do passado dia 5 de Julho. Afinal, ele anda por aí. Mas que não se enganem os mais optimistas. Na referida entrevista afirmou algo que me deixou profundamente surpreendido: “Cultivo muito a fragilidade”. Não fazia a mínima ideia… Porém, a verdadeira surpresa surge quando fala da possibilidade de se tornar o livro mais acessível com uma redução no IVA. “Vamos ver”, diz, salientando ainda que já o defendeu em relação à música. Mas só foi mesmo isso, uma defesa. A verdade é que tudo indica que continuaremos a pagar 19% de IVA nos discos e, quem sabe, ainda menos que 5% nos livros. Agora sou eu que o digo: vamos ver.
Mas esta não foi a única grande entrevista do passado dia 5 de Julho. Na DNa, do Diário de Notícias, David Ferreira, “patrão” da EMI-Valentim de Carvalho em Portugal, é entrevistado pela jornalista Anabela Mota Ribeiro. Na capa poderia ler-se “A música, em Portugal, deve muito a este homem. Já era tempo de o conhecermos melhor”. Era sim senhor. David Ferreira, que um dia “quis ser cowboy”, é uma referência na música portuguesa. Quanto a isso não existem dúvidas. Mas vamos ao que interessa. Em apenas um parágrafo David Ferreira explica o porquê de a música portuguesa não ter sucesso lá fora: “somos periféricos”; “temos raízes (…) profundas”; o nosso inglês soa a “postiço”; e o que se faz por cá “salvo raríssimas excepções, é tudo sub-produto”. E se o fizermos em português “estamos a dirigir-nos a um público reduzido”. Não discordo. No entanto não me parece lógico que os jornalistas continuem a colocar questões sobre internacionalização e os responsáveis da indústria a responderem-lhes quando nem sequer em Portugal a nossa música se impõe. É tempo perdido, pura utopia e fuga à questão central – criar condições para que exista qualidade naquilo que fazemos.
Como facilmente podem constatar, a primeira semana de Julho foi ávida em acção cultural. Esperemos que as próximas também o sejam. Quanto às audiências, essas estão garantidas.