Chegávamos à praia de manhã cedo. O pano da barraca listada estava tão frio como a areia. Eu desembrulhava o pão da véspera, enquanto seguia o rasto das gaivotas. O pão era mau, mas o cheiro da praia dava-me um estranho conforto que ainda não se acomodava bem em mim.
Numa dessas manhãs, enquanto passeava com o meu pai, descobrimos uma mala azul de mulher. Era de palhinha num azul cósmico que guardo até hoje. Lá dentro, um lápis dos olhos, um borrifador de perfume, um porta moedas vazio. Durante muito tempo guardámos a mala como se fosse um bem precioso. Um dia experimentei o perfume, borrifando-me para as ordens do meu pai.
Eu gostava de saber o que aconteceu à mulher que deixou ali na praia, a mala. Na verdade eu queria ser aquela mulher que se passeava pela areia fria de mala a tiracolo.
Quem a perdeu, quem passou amá-la?