A velha casa musical portuense
· 23 Jun 2003 · 08:00 ·
A cidade do Porto tem andado em festa. Depois dos títulos conquistados pelo Futebol Clube do Porto e dos festejos da noite de São João, porventura a mais longa da cidade Invicta, a festa continua com o Festival do Porto, que se apresenta como um festival apoiado num conceito urbano. Novidade? Não se formos a pensar no Cosmopolis, que se realiza em Lisboa e, por coincidência, nos mesmos dias (26 a 29 de Junho). Ambos se desmembram por vários locais e espaços, oferecendo alternativas menos evidentes nos tempos que correm. A diferença está, e isso sim, na própria música. Se o Cosmopolis abraça as novas tendências da electrónica, o Festival do Porto opta pelos sons mais alternativos e underground.
Mas o que me agrada no Festival do Porto é o facto de ser mesmo no Porto e feito por pessoas cá da terra. Não quero com isto parecer regionalista e muito menos bairrista. Aliás, nem sequer sou. No entanto não poderia deixar de o referir, e talvez por ser um sinónimo de mudança. Muito nos temos habituado a ver Lisboa como o centro das decisões, desde a política à música. E actualmente as coisas começam a mudar. O Festival do Porto é apenas um exemplo. Basta que pensemos que a distribuidora e produtora de espectáculos O Rouco (organizadora deste evento), os sites 123som.com e Divergências.com, as editora bor land e Matarroa, entre outros exemplos, têm todos em comum o facto de serem do Porto. Um bom sinal, significando que a mudança começa a ser real, de forma saudável e com claros benefícios para todos. Há mais espaço para se conhecer nova música, venha ela de onde vier. Pessoalmente, gostava que esta descentralização se alastrasse a todo o país. Significava que as oportunidades de divulgação musical aumentariam e as hipóteses da boa música chegar até nós também.
E já que se fala de música no Porto, não poderia deixar de mencionar a nossa Casa da Música. Sim, porque já lá vão dois anos e ainda nada, a não ser uns eventos num cenário macabro, com paredes de betão inacabadas e casas de banho improvisadas. E se a isto juntarmos a actual polémica que envolve Conselho de Administração, Câmara do Porto e Ministério da Cultura, então tudo me leva a crer que só depois do Euro 2004 teremos a “casa” a funcionar em pleno.
Mas felizmente temos muitas outras casas com música no Porto. Temos as grandes, como o Coliseu, o Rivoli, o Sá da Bandeira e o Hard Club, e as pequenas, como o Maus Hábitos, o Mercedes e o Blá Blá, entre outras que verdadeiramente albergam a música nas suas divisões interiores. Talvez devessem ter gasto todos aqueles milhões de euros na renovação de salas míticas da cidade, como as que referi ou outras que se encontram ao abandono e com o futuro indefinido, como o Cinema Batalha e o do Terço.
Portugal parece ter um dom natural para fazer muitas coisas ao contrário. E o mais grave é que ninguém parece importar-se com isso. Começa nos recursos financeiros mal gastos e acaba em casos como o da Sociedade Portuguesa de Autores, em que um antigo presidente de Direcção se demite envolvido em suspeitas para logo de seguida preparar uma lista para concorrer às eleições que se adivinham. Talvez seja por isso mesmo, e por pessoas que desvalorizam aquilo que se faz por cá em termos musicais, que o nosso país cultural viva numa velha casa em ruínas e prestes a desmoronar-se.
Felizmente ainda vão persistindo algumas ilhas, onde a humildade e vontade daqueles que lá habitam são suficientes para me fazerem sentir alguma esperança. No Porto elas ainda persistem e em Lisboa também. Esperemos que se espalhem ao resto do país.
Jorge BaldaiaMas o que me agrada no Festival do Porto é o facto de ser mesmo no Porto e feito por pessoas cá da terra. Não quero com isto parecer regionalista e muito menos bairrista. Aliás, nem sequer sou. No entanto não poderia deixar de o referir, e talvez por ser um sinónimo de mudança. Muito nos temos habituado a ver Lisboa como o centro das decisões, desde a política à música. E actualmente as coisas começam a mudar. O Festival do Porto é apenas um exemplo. Basta que pensemos que a distribuidora e produtora de espectáculos O Rouco (organizadora deste evento), os sites 123som.com e Divergências.com, as editora bor land e Matarroa, entre outros exemplos, têm todos em comum o facto de serem do Porto. Um bom sinal, significando que a mudança começa a ser real, de forma saudável e com claros benefícios para todos. Há mais espaço para se conhecer nova música, venha ela de onde vier. Pessoalmente, gostava que esta descentralização se alastrasse a todo o país. Significava que as oportunidades de divulgação musical aumentariam e as hipóteses da boa música chegar até nós também.
E já que se fala de música no Porto, não poderia deixar de mencionar a nossa Casa da Música. Sim, porque já lá vão dois anos e ainda nada, a não ser uns eventos num cenário macabro, com paredes de betão inacabadas e casas de banho improvisadas. E se a isto juntarmos a actual polémica que envolve Conselho de Administração, Câmara do Porto e Ministério da Cultura, então tudo me leva a crer que só depois do Euro 2004 teremos a “casa” a funcionar em pleno.
Mas felizmente temos muitas outras casas com música no Porto. Temos as grandes, como o Coliseu, o Rivoli, o Sá da Bandeira e o Hard Club, e as pequenas, como o Maus Hábitos, o Mercedes e o Blá Blá, entre outras que verdadeiramente albergam a música nas suas divisões interiores. Talvez devessem ter gasto todos aqueles milhões de euros na renovação de salas míticas da cidade, como as que referi ou outras que se encontram ao abandono e com o futuro indefinido, como o Cinema Batalha e o do Terço.
Portugal parece ter um dom natural para fazer muitas coisas ao contrário. E o mais grave é que ninguém parece importar-se com isso. Começa nos recursos financeiros mal gastos e acaba em casos como o da Sociedade Portuguesa de Autores, em que um antigo presidente de Direcção se demite envolvido em suspeitas para logo de seguida preparar uma lista para concorrer às eleições que se adivinham. Talvez seja por isso mesmo, e por pessoas que desvalorizam aquilo que se faz por cá em termos musicais, que o nosso país cultural viva numa velha casa em ruínas e prestes a desmoronar-se.
Felizmente ainda vão persistindo algumas ilhas, onde a humildade e vontade daqueles que lá habitam são suficientes para me fazerem sentir alguma esperança. No Porto elas ainda persistem e em Lisboa também. Esperemos que se espalhem ao resto do país.






